Título: Dr. Potiguar: a lei para reduzir os conflitos
Autor: Melo, Liana
Fonte: O Globo, 12/07/2009, Economia, p. 25

Procurador-chefe no Pará, de 54 anos, diz que aposentadoria "tem tempo".

BELÉM. É de uma sala com janelas de vidro, no primeiro andar do Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA) e de costas para uma das ruas mais movimentadas de Belém que o procurador-chefe do órgão, José Augusto Torres Potiguar, despacha alguns documentos antes de dar entrevista. Não teme desavenças nem investidas, mesmo atuando em muitos casos complexos numa das regiões de maior conflito do país.

A escolta solicitada à Polícia Federal durante uma recente audiência pública realizada em Belém para discutir a situação dos frigoríficos citados foi definida como "habitual" pelo procurador.

- Conhecíamos o público que ali se faria presente. Apenas pedimos à PF que deixasse alguns de seus agentes destacados para o local por causa dos senadores e deputados federais, à nossa disposição - explica.

O dr. Potiguar, como é mais conhecido, entrou no MPF em 1982, no quinto concurso público da instituição - o mesmo que aprovou Roberto Monteiro Gurgel, atual procurador-geral da República. Esta é a segunda vez que exerce a função de procurador-chefe. A primeira foi no biênio 2002-2004. O atual mandato vai até o final do ano que vem.

Como procurador, atua nos casos de improbidade administrativa e patrimônio cultural. Foi dele a ação que manteve em Belém, por exemplo, o avião Catalina, utilizado no século passado no processo de desenvolvimento do Estado, quando a Aeronáutica tentou negociá-lo com o governo americano por uma outra aeronave. Somente o Museu Aeroespacial do Rio de Janeiro tem um modelo semelhante em todo o Brasil.

Paraense de Belém, José Augusto Potiguar vê no cumprimento da lei uma das saídas para solucionar os conflitos que hoje deterioram a imagem do Estado.

- Além disso, a presença do Estado de Direito em áreas historicamente abandonadas, como a região de Castelo dos Sonhos (em Altamira, no sul do Pará), ajudaria a reverter a situação.

Para ele, a grilagem de terras e o desmatamento são os dois maiores problemas do Pará, na atualidade. Potiguar entende que o trabalho escravo e os conflitos agrários nada mais são do que consequência dos dois primeiros.

Seu conceito de trabalho, diz, resume-se a cumprir a lei:

- Desde que a lei, claro, tenha alcance social para resolver conflitos e beneficiar a sociedade - ressalva.

Casado e pais de quatro filhos, José Augusto Potiguar tenta ingressar a filha caçula no curso de medicina.

- Os dois primeiros são formados em direito e o terceiro, em psicologia.

Idade para se aposentar o dr. Potiguar já tem. O desejo de ver um Pará mais justo e fortalecido, no entanto, é o que motiva este jurista de 54 anos a continuar na ativa.

- Aposentadoria é um dos poucos assuntos que podemos deixar para depois - diz, bem-humorado.