Título: BC pode subir os juros por causa das eleições
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 12/07/2009, Economia, p. 28

Com Dilma e Serra se opondo à atual política monetária, alta de taxa em 2010 teria como alvo inflação de 2011

BRASÍLIA. A equipe econômica avalia que os agentes de mercado já estão incorporando as eleições presidenciais de 2010 nas suas operações. O principal indicador desta "politização dos números" são as projeções para os juros básicos do país. Tanto no mercado futuro de juros quanto na pesquisa Focus realizada pelo Banco Central (BC) - que ouve semanalmente cerca de 80 instituições toda semana - as estimativas mostram que a Taxa Selic deverá voltar a subir no próximo ano. Esta curva, afirmam os técnicos, não tem fundamento macroeconômico.

Reforça a avaliação interna o fato de os dois principais pré-candidatos à Presidência da República serem Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), críticos da atual condução da política monetária adotada pelo BC. A Selic está em 9,25% ao ano, menor patamar histórico, e a expectativa do mercado, segundo o Focus, é que ela feche 2009 em 8,75%. Para 2010, no entanto, os especialistas apostam que a taxa voltará a 9,25%. Nos mercados futuros, o movimento é o mesmo. As taxas para janeiro de 2010 estão em 8,71% e, para 2011, em 9,79%.

Inflação, na verdade, tenderia a desacelerar

Esse cenário é importante, porque são justamente esses juros futuros que servem de parâmetro para o custo das operações de crédito, por exemplo.

- Não tem outra coisa para pensar. Nós achamos que o processo político está influenciando essas projeções - disse uma fonte da área econômica do governo.

A equipe lista suas evidências. Primeiro, a inflação está sob controle, com sinais de arrefecimento e dentro da meta prevista para os próximos anos, de 4,5% pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Pelo Focus, o mercado prevê o indicador em 4,42% neste ano e em 4,33% em 2010. Na semana passada, por exemplo, foi divulgado que o IPCA fechou junho com alta de 0,36%, contra 0,47% em maio.

Outro ponto é a atividade econômica. Apesar da já constatada recuperação, ainda está longe do seu potencial - entre 3,5% e 4% ao ano. O que se diz é que o Produto Interno Bruto (PIB) pode avançar com folga entre oferta e demanda. Ou seja, sem pressões inflacionárias. O BC projeta que a economia vai crescer apenas 0,8% este ano, e a Fazenda, 1%. Para 2010, o mercado prevê expansão de 3,5%.

Os especialistas avaliam que depois das eleições - marcadas para outubro de 2010 -, o BC vai ter de aumentar os juros básicos novamente. Mas muito mais de olho na inflação de 2011, já que decisões de política monetária demoram até nove meses para surtir efeito na economia. Ao aumentar os juros, o BC encarece os custos dos financiamentos, inibindo o consumo e, consequentemente, segurando altas de preços.

- O (atual) nível de juros é para estimular a economia. Quando o crescimento for maior, essa taxa pode ficar inflacionária - afirmou o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles.

Câmbio valorizado ajuda a criar "colchão" de proteção

Neste momento, a inflação sofre diversas influências. Em primeiro lugar, vêm os alimentos, cujas expectativas são de aumento nos preços das principais commodities, algo entre 5% e 10% até 2010.

Até o BC já tem uma certa preocupação nesse sentido, mas há também avaliações que minimizam as projeções mais pessimistas. Uma delas é o câmbio valorizado, com teto de R$2, que deve servir como uma espécie de colchão para essas prováveis subidas, além da queda nos preços dos principais insumos agrícolas, depois da arrancada no período mais agudo da crise internacional. O Banco do Brasil (BB), por exemplo, calcula uma queda entre 15% e 20% neste segmento.

Outro fator importante, e também positivo, são os preços administrados que, no próximo ano, deverão crescer menos também por causa do câmbio. Pelo Focus, o mercado calcula que os preços dos serviços públicos vão subir 4,33% em 2009. Mas, em 2010, apenas 3,90%.