Título: Acuado, Sarney é levado a instalar CPI da Petrobras
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 10/07/2009, O País, p. 3

Nova denúncia agora envolve fundação que leva o nome do presidente do Senado, acusada de desviar verbas da estatal

A denúncia de que a Fundação José Sarney desviou para empresas fantasmas e de sua família pelo menos R$ 500 mil do R$ 1,3 milhão de patrocínio recebido da Petrobras complicou ainda mais a frágil situação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e reforçou ontem a pressão pela instalação da CPI da Petrobras. Na tentativa de abafar a nova denúncia, publicada pelo jornal ¿Estado de S. Paulo¿, Sarney marcou para a próxima terça-feira, às 15h, a instalação da CPI, mas a oposição já avisou que a denúncia não será investigada apenas pela comissão.

PSDB e DEM também vão propor ao Ministério Público Federal e ao Tribunal de Contas da União que investiguem o presidente do Senado por mais essa suspeita de irregularidade no uso do dinheiro público, além de todas as outras denúncias envolvendo o nome dele.

Diante da resistência de Sarney a se licenciar do cargo, a oposição vai reforçar também a pressão para a instalação imediata do Conselho de Ética. Como todos os partidos já fizeram suas indicações, o colegiado está pronto para ser instalado na próxima semana. Com a eleição dos integrantes do Conselho, já será possível sortear o relator da representação protocolada pelo PSOL contra Sarney e o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL). Seria o primeiro passo para aprovar, no Conselho de Ética, uma proposta de afastamento do presidente do Senado do cargo, como estabelece projeto de resolução aprovado no ano passado. Para isso, basta que o plenário do Conselho aprove a recomendação.

¿ Não podemos fazer cara de paisagem e fingir que nada aconteceu. Além de solicitarmos uma investigação do MP e do TCU, temos uma possibilidade regimental de garantir o afastamento de Sarney do cargo. Para isso, basta que seja instalado o Conselho de Ética. Nossa luta agora deverá ser para que o Conselho comece a funcionar ¿ disse Demóstenes Torres (DEM-GO).

Pela denúncia, em junho de 2005, Sarney chegou a enviar carta ao secretário-executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira ¿ que agora é titular da pasta ¿ pedindo agilização na tramitação do projeto de patrocínio da Petrobras para preservação e recuperação de acervos da Fundação José Sarney. Pelo menos R$ 30 mil do patrocínio foram transferidos para emissoras de rádio e TV da família Sarney, para veiculação de comerciais sobre o projeto. A Petrobras teria financiado, ainda, cursos de capacitação de pelo menos quatro funcionários do Senado, entre eles uma sobrinha e uma cunhada de Sarney.

Suplicy, o único a defender o presidente do Senado

Acuado, Sarney pôs em prática, logo cedo, sua estratégia de criar um fato político novo e tentar desviar as atenções. Telefonou para cada um dos líderes da base governista para comunicar sua decisão de instalar a CPI da Petrobras.

Sem alternativa, a base concordou.

Com o esvaziamento da Casa, ontem, Sarney fez rápida aparição em plenário, mas não escapou de ouvir o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) anunciar, da tribuna, que a nova denúncia contra ele será investigada pela CPI da Petrobras. Alegando outros compromissos, porém, Sarney não ficou para ouvir o pronunciamento do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que solicitou a investigação do Ministério Público e do TCU.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que vinha defendendo o afastamento de Sarney do cargo, foi o único, em plenário, a sair em defesa do presidente do Senado. Subsidiado por informações do governo, alegou que o Instituto Fernando Henrique Cardoso também já havia captado R$ 5,7 milhões de patrocínio da Sabesp, empresa de saneamento básico de São Paulo. Disse, ainda, que o instituto teria encaminhado novo pedido de patrocínio, agora para o Ministério da Cultura, de R$ 6,5 milhões.

¿ Por isso, devemos analisar com cautela qualquer denúncia, antes de declararmos que houve desvio de recursos ¿ ponderou Suplicy.

O líder do DEM, senador José Agripino (RN), disse que não insistiria mais na proposta de licença de Sarney, por uma questão de aritmética, mas que agiria de outra forma: ¿ Não vou insistir em algo que não tem sustentação política, já que o presidente Lula obrigou o PT a recuar de sua recomendação pelo afastamento do presidente do Senado, mas vou propor a minha bancada que nos somemos ao PSDB na petição para que essas denúncias sejam investigadas pelo Ministério Público.

Preocupado com os desdobramentos do caso para o governo, o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), procurou afastar qualquer vinculação entre as investigações em relação ao patrocínio à Fundação José Sarney e a Petrobras.

¿ As investigações têm que ser feitas com todo o rigor, têm que verificar se há desvios, apurar as responsabilidades e, se tiver, os responsáveis devem ser punidos ¿ disse Mercadante.

Mas até mesmo a oposição já reconhecia ontem que seria muito difícil tirar Sarney do cargo, mesmo com as novas denúncias, porque ele está protegido por Lula.

¿ Nem o plenário tira Sarney. Nem o Conselho de Ética tira Sarney. Porque ele tem o apoio do presidente Lula. Não adianta mais surgirem fatos novos ¿ disse Sérgio Guerra (PSDB-PE).