Título: Mediação do Brasil é limitada
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 10/07/2009, O Mundo, p. 29

Para o professor de História e Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) Bernardo Kocher, o pedido de Obama para o Brasil ajudar no diálogo com o Irã é positivo e sinal de prestígio do país no cenário internacional.

Mas, segundo ele, é pouco provável que uma mediação como essa acabe com a crise.

Leonardo Valente O GLOBO: O que significa para o Brasil e para os EUA o pedido de Obama a Lula para intermediar a questão nuclear com o Irã? BERNARDO KOCHER: Para o Brasil é muito positivo, é um produto de uma política externa que vem sendo desenvolvida nos últimos anos no Brasil e que agora é reconhecida pelo novo governo americano.

O Irã é uma questão prioritária da agenda americana, e a inclusão do Brasil nessas negociações mostra o peso do país.

Para os EUA, o que me parece é que em dois temas ¿ a questão palestina e a crise com o Irã ¿ Obama pretende dar uma vertente de ação mais multilateral, utilizandose da ajuda de outros atores internacionais importantes nesses casos, não somente o Brasil. Assim, poderá concentrar suas forças em outros dois temas considerados cruciais: Paquistão e Afeganistão. Casos como Palestina e Irã, que envolvem mais relações entre Estados, podem ter mais facilmente a ajuda de outros governos. Já os casos do Afeganistão e do Paquistão são mais complicados, envolvem forças internas não diretamente ligadas aos governos e, consequentemente, outras ações.

Por que o Brasil foi convidado a exercer esse papel? Que tipo de credenciais o país tem para isso? KOCHER: O Brasil tem boas relações com o Irã e, ao mesmo tempo, tem uma boa imagem internacional. Além de expressão internacional, tem postura moderada em relação a temas mais delicados e não tem bomba atômica. Esses diferenciais contribuem para credenciá-lo a esse papel.

O senhor acredita que o Brasil pode ser bem sucedido nessa tarefa? KOCHER: A questão nuclear iraniana é uma questão de disputa por hegemonia no Oriente Médio, e tanto o Brasil quanto os EUA sabem disso. Não depende do governo brasileiro a resolução definitiva desse problema. O Brasil pode até conseguir progressos limitados, como um adiamento ou algumas concessões específicas, o que já seria muito positivo para o Brasil. Mas não creio que exista a expectativa de que essa mediação possa pôr fim à crise.