Título: Prefeitos vão ter de pagar conta
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 07/04/2009, Política, p. 02

De pires na mão

Antes de anunciar ajuda às cidades a partir de emendas orçamentárias, Lula disse, em Minas, que prejuízos com turbulência global serão divididos entre o governo federal, estados e municípios Montes Claros (MG) ¿ O presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou que os prejuízos da turbulência na economia mundial têm de ser divididos entre governo federal, estados e prefeituras. Apenas nos três primeiros meses deste ano, a queda nos repasses de recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) chegou a 35% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo entidades que representam as cidades.

¿O que eu poderia dizer aos prefeitos é o seguinte: todos nós vamos ter que apertar o cinto, mas nenhum de nós vai morrer na seca como os municípios brasileiros já morreram durante tanto e tanto tempo¿, afirmou o presidente ao discursar na inauguração da usina de biodiesel Darcy Ribeiro, da Petrobras, em Montes Claros, no Norte de Minas. O discurso do presidente ontem foi bem diferente do pronunciado no final do ano passado, quando ele disse que os efeitos da crise econômica iriam atingir o Brasil como uma ¿marolinha¿.

O presidente reconheceu que o governo federal tirou recursos dos prefeitos ao conceder incentivos com tributos como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ¿ cuja redução desde outubro para as montadoras de automóveis foi prorrogada ¿, mas avisou que as perdas serão repartidas, mesmo reconhecendo que se as prefeituras forem mal em função da crise, os prejuízos serão sentidos na ponta, com a redução dos salários dos funcionários, piora de serviços como saúde e educação e obras.

-------------------------------------------------------------------------------- Ameaça de paralisação

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi uma forma de conter a ansiedade e um certo clima de insatisfação entre os prefeitos do norte de Minas, que, no fim de semana, tentaram insistentemente incluir na agenda presidencial uma reunião com eles para discutir medidas a serem adotadas para ajudar os municípios afetados pela crise. Em Minas, as 853 prefeituras prometem fechar as portas em 15 de abril se o governo não der uma solução para as perdas de receitas.

Lula voltou a defender a manutenção dos investimentos como forma de amenizar os efeitos da crise internacional. Ele afirmou que o governo vai ¿gastar dinheiro¿ para fazer com que o Brasil deixe de sofrer com a turbulência global, mas ressaltou que a recuperação dos países desenvolvidos é importante para manter a movimentação da economia. Lula disse que poderia ter determinado a suspensão de projetos como o da usina de biodiesel inaugurada ontem, mas ponderou que diante de problemas é preciso fazer a economia girar.

Para Lula, o Brasil foi um dos últimos países a sentir os reflexos da crise e deve ser um dos primeiros a sair da turbulência. Mas para tanto, o presidente reforçou que é preciso manter medidas como o anúncio do programa com o objetivo de permitir a construção de 1 milhão de casas populares. ¿A economia é como se fosse uma roda gigante. Ela não pode parar de girar. Ela tem que girar para que se possa fazer as coisas acontecerem neste país.¿

¿Torcer, torcer¿ Outro ponto essencial, de acordo com Lula, é a recuperação dos demais países, principalmente os compradores dos produtos brasileiros. ¿A primeira coisa que temos que ter claro aqui no Brasil é que temos que torcer, torcer como nunca, pedir a Deus para que essa crise desapareça da Europa, dos Estados Unidos e do Japão, porque esses países, como são os mais ricos do mundo, precisam vender e comprar. E se eles não estão comprando vai dificultar para os países em desenvolvimento¿.