Título: ONGs da família recebem R$ 3 milhões
Autor: Lima, Maria; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 15/07/2009, O País, p. 4
Eletrobrás, CEF, BB, Correios e Ministério do Turismo repassaram recursos
BRASÍLIA. Duas instituições da família Sarney obtiveram, desde 2003, pelo menos R$ 3 milhões de patrocínio de empresas estatais federais. O Instituto Mirante, criado em julho de 2004 e que tem como sede o endereço onde funciona o jornal da família, em São Luís, ganhou, R$ 400 mil só do sistema Eletrobrás, controlado politicamente pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Já a Associação dos Amigos do Bom Menino das Mercês, cujo presidente de honra é Sarney, levou R$ 660 mil da Eletrobrás, R$ 1,070 milhão da Caixa Econômica Federal (CEF), R$ 520 mil do Banco do Brasil, R$ 180 mil dos Correios e R$ 150 mil do Ministério do Turismo.
A família Sarney tem outra ONG: o Instituto Geia, controlado por Jorge Murad, marido da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. O instituto foi criado em 2000. Entre os membros do conselho fiscal do Geia está Severino Francisco Cabral. Ele ficou conhecido em 2002, com o escândalo da empresa Lunus, de Roseana e Murad, na qual a Polícia Federal apreendeu R$ 1,34 milhão em dinheiro vivo.
Severino era sócio da Lunus.
O Geia foi autorizado em 2003 a captar R$ 300 mil, com base na Lei Rouanet, para edição de um livro de fotografias sobre a diversidade cultural do Maranhão.
Captou R$ 150 mil. Em 2005, obteve autorização para mais R$ 662 mil, para documentar a ¿diversidade ambiental, econômica e cultural associada aos rios Itapacuru, Mearim, Zutiua, Munim e Preguiça¿. A ideia era produzir três mil exemplares do livro e mil DVDs. Em dezembro de 2007, o projeto foi arquivado, sem a liberação do dinheiro. Este ano, o instituto pediu R$ 87 mil no Banco do Nordeste para um festival de poesia, em agosto.
O pedido foi pré-aprovado, mas o valor não está definido.
Das três ONGs ligadas aos Sarney, a Amigos do Bom Menino das Mercês é a que mais recebe recursos públicos. A maior realização da ONG é uma festa junina, para a qual contribuíram CEF, BB e Ministério do Turismo.
Os patrocinadores argumentam que têm interesse em divulgar suas marcas.
Filho de Sarney assina um dos contratos com Eletrobrás A Eletrobrás deu ao Mirante R$ 150 mil para que promovesse o Projeto Camões ¿ Núcleo de Produção de Vídeo. O signatário do contrato foi Fernando Sarney, filho do senador. Também contribuiu com R$ 100 mil para o Baile do Fofão, outros R$ 100 mil para o Brilha São João 2006 e R$ 50 mil, em 2004, para o projeto Um Olhar sobre os Mirantes.
O Mirante se credenciou, em 2006, para captar verbas baseado na Lei Rouanet. O Ministério da Cultura autorizou a captação de R$ 4,3 milhões para realização de um festival de músicas e a gravação de CD, mas a ONG só teria obtido R$ 150 mil.
Embora funcione no mesmo local do jornal ¿O Estado do Maranhão¿, o Mirante não tem telefone próprio. O GLOBO entrou em contato com a entidade. A pessoa que responderia pelo instituto, Dulce Brito, gerente de relações institucionais do Sistema Mirante (que engloba a TV, rádio e internet da família), não estava. O diretor de marketing, Laércio Souza, não soube dizer, por exemplo, o que foi o Projeto Camões, que obteve R$ 150 mil da Eletrobrás. Disse que o instituto, presidido por Teresa Murad, mulher de Fernando Sarney, se dedica a ¿projetos culturais¿.
A Eletrobrás informou, por meio de sua assessoria, que a escolha dos projetos patrocinados é feita por um comitê. No fim de 2008, porém, mudou-se o sistema: há um edital público para os interessados em verbas. Uma comissão faz as escolhas.