Título: Havana e Washington negociam migração
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 15/07/2009, O Mundo, p. 22

Diplomatas se reúnem pela primeira vez em 6 anos para discutir acordos suspensos

NOVA YORK. Diplomatas de Cuba e dos Estados Unidos reuniram-se ontem na sede da ONU, em Nova York, para negociar a implementação de regras já negociadas em acordos de imigração entre os dois países, seis anos após o último encontro do gênero. O encontro, que foi elogiado pelos dois lados, faz parte de uma série de iniciativas do governo Barack Obama para remodelar as relações com Cuba. Em abril, Obama aboliu restrições de viagem e remessas de dinheiro de cubanos nos EUA para parentes na ilha.

A delegação americana foi liderada por Craig Kelly, subsecretário para Assuntos do continente americano do Departamento de Estado; do lado de Cuba, Dagoberto Rodriguez, vice-ministro das Relações Exteriores. ¿As conversas foram concentradas apenas no tema imigração: debatemos como promover a imigração legal, ordenada e segura entre os dois países, com base em acordos já firmados¿, informou o Departamento de Estado. Os dois lados levantaram antigas diferenças, mas disseram que a reunião preparou terreno para futuras discussões.

¿ Participar dessas negociações ressalta nosso interesse em buscar discussões construtivas com Cuba e avançar em assuntos de interesse mútuo ¿ disse Ian Kelly, porta-voz do Departamento de Estado.

Rodríguez considerou produtivo o encontro, no qual Cuba apresentou um novo acordo para consideração.

Os acordos de imigração entre os dois países foram suspensos pelo governo Bush em 2004. As negociações visam a implementar um novo compromisso, para permitir que tratados já negociados voltem a ser válidos. O Departamento de Estado acusava Cuba de não permitir que os barcos da Guarda Costeira entrem em suas águas para repatriar cubanos interceptados no mar. Os americanos querem também que não haja retaliações aos repatriados. Mas analistas políticos lamentaram que a agenda da reunião fosse tão estreita:

¿ É decepcionante que, após tanto tempo de silêncio, cubanos e americanos voltem a sentar à mesa com uma pauta tão restrita, quando há dezenas de outros tópicos a serem debatidos. Por enquanto, a retomada de negociações não leva muito além dos acordos já firmados ¿ avaliou o cientista político Wayne Smith, do Centro de Política Internacional, em Washington.

Diplomacia cultural leva a Havana Filarmônica de Nova York

O encontro provocou forte reação de representantes da comunidade cubano-americana na Flórida. A deputada republicana Ileana Ros-Lehtinen, da bancada hispânica, criticou a reunião, dizendo que o regime cubano havia ¿deixado de honrar todos os acordos sobre imigração até agora¿:

Diplomatas cubanos estenderam os esforços de uma reaproximação ao setor cultural, convidando duas instituições de renome internacional para se apresentarem em Havana: a Orquestra Filarmônica de Nova York e o Royal Ballet, de Londres. É a primeira vez que as duas instituições visitam a ilha desde a revolução de 1959. O governo Obama aplaudiu a iniciativa, e o vice-presidente Joe Biden qualificou a proposta de ¿um projeto maravilhoso¿.

O Royal Ballet iniciou ontem à noite uma série de cinco apresentações, com ingressos esgotados e direito a transmissão por telão em frente ao Gran Teatro e homenagem a Alicia Alonso, a mais famosa bailarina cubana. Representantes da Filarmônica de Nova York já estão em Cuba para avaliar as condições acústicas das salas de espetáculo. As apresentações estão previstas para 31 de outubro e 1º de novembro, no Teatro Amadeo Roldan. A orquestra, parte da ¿diplomacia cultural de Washington¿, esteve no ano passado na Coreia do Norte.