Título: Um duque sempre fiel ao rei. Seja ele quem for
Autor: Otavio, Chico; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 19/07/2009, O País, p. 4

Toda eleição tem um vento. É perceber a direção", ensina Paulo Duque, há 50 anos à sombra do poder e hoje presidente do Conselho de Ética.

O senador Paulo Duque (PMDBRJ) contou certa vez a dois historiadores, que faziam a sua biografia, como conseguiu atravessar a maior parte dos últimos 50 anos cumprindo mandatos parlamentares sem nunca ter tido uma votação expressiva: ¿ Toda eleição tem um vento. Se o candidato não perceber sua direção, acabará inevitavelmente derrotado.

Desde 1962, primeira eleição para deputado estadual na Guanabara, os ventos levam Paulo Duque para o porto seguro da situação. Pragmático, ele sempre foi um fiel aliado de governos, independentemente da sigla política que estava no poder. Esse adesismo, além da política de distribuição de cargos públicos em qualquer esfera em que atue, explicaria, por exemplo, o seu desprezo pela opinião pública, manifestado após sua escolha para comandar o Conselho de Ética.

Em oito mandatos parlamentares (sete como deputado estadual e um no Senado), algumas vezes esse político carioca, que começou no Partido Republicano (PR) do ex-presidente Artur Bernardes, errou a direção do vento.

Numa delas, no regime militar, pagou com a derrota eleitoral o preço de sair do PR e disputar as eleições de 1966 pela Arena, partido dos generais.

Acostumado a esquentar o banco de reservas, com suplências e subsecretarias que sempre o colocaram à sombra do poder, Paulo Duque, aos 81 anos, brilha finalmente na titularidade de um cargo importante: caberá a ele, como presidente do Conselho de Ética do Senado, conduzir os trabalhos que decidirão a sorte do presidente da Casa, o senador José Sarney (PMDB-AP).

Na política fluminense, Duque sempre foi cunhado de chaguista. Mas a historiadora Marly da Motta, autora, com Carlos Sarmento, da biografia do senador (produzida pela Fundação Getulio Vargas na série ¿Conversando com a política¿), considera a distinção injusta. Para ela, a aproximação com o exgovernador Chagas Freitas deveuse muito mais ao rumo dos ventos eleitorais, que inflavam as velas da política da bica d¿água, do que propriamente a uma identidade ideológica.

¿ Rótulos nunca são bons. Duque, por ser um político com eleitorado pequeno, precisa sempre ficar perto do governo porque esse eleitorado demanda o atendimento de serviços ¿ disse Marly.

Paulo Duque, como viria a se repetir outras vezes, entrou raspando no PMDB de Chagas Freitas. O governador só o incluiu entre os candidatos favorecidos por sua máquina eleitoral depois de romper com o médico Aparício Marinho.

Foi assim que, em 1974, Duque se elegeu deputado pela segunda vez.

Advogado que sonhava em ser piloto da Força Aérea, procurou sempre se manter distante de embates e polêmicas. Nos anos 60, presidiu a CPI encarregada de investigar uma suposta matança de moradores de rua no Rio da Guarda. O resultado frustrou os denunciantes ao afastar a responsabilidade do então governador, Carlos Lacerda.

Em meados dos 80, quando o chaguismo vivia o seu ocaso, Paulo Duque nem precisou abandonar o PMDB para se afinar com o PDT de Leonel Brizola: ¿ Ele sempre votou conosco.

Pessoa afável, nunca foi agressivo ¿ recorda-se o pedetista Eduardo Chuai, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de 1985 a 1987.

Por isso, pouca gente entendeu quando Duque, em 1992, anunciou em plenário que iria sugerir ao Congresso Nacional a instituição do duelo no Brasil como forma de resolver problemas como ofensas e calúnias que a Justiça demorava a esclarecer. Na época, um opositor de Leonel Brizola, animado com a ideia, prometeu desafiar o próprio governador fluminense.

O repentino mau humor de Paulo Duque tinha explicação. Como primeirosecretário da Mesa da Alerj, travava uma briga com o então presidente da Casa, José Nader, por almejar vaga no Tribunal de Contas do Estado.

Como Nader não endossou a pretensão, o peemedebista resolveu rejeitar projeto do presidente que implicaria a criação de novos cargos e outros privilégios na Assembleia.

Sem o cargo no TCE, a insuficiência de votos brecaria, mais uma vez, a carreira parlamentar em 1994. A partir de então, o veterano deputado vagaria por postos do segundo escalão e construiria sólida relação com o então presidente da Assembleia, deputado Sérgio Cabral Filho. Nos anos 2000, após ser o 12 osuplente do PMDB na eleição para vereador, conseguiu passagens-relâmpago pelo Executivo: foi subsecretário de Defesa do Consumidor no governo Garotinho e secretário especial da Terceira Idade do prefeito Cesar Maia.

Sua volta ao Legislativo, em 2007, como segundo suplente de Cabral no Senado, marca também a retomada de seu velho estilo de fazer política.

A rua onde fica uma de suas casas em Maricá (parte de seu patrimônio de R$ 1,5 milhão, declarado à Justiça Eleitoral em 2002) foi contemplada com R$ 1,3 milhão para ¿pavimentação das vias coletoras¿, por emenda de Duque ao Orçamento da União de 2009.