Título: Pedreiros, marceneiros e motoristas de escavadeiras: todas mulheres
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 19/07/2009, Economia, p. 27

Grande volume de mão de obra feminina exigiu banheiros diferenciados

PORTO VELHO. Dezenas de caminhões escavadeiras se revezam no trabalho duro de retirar toneladas de pedras das escavações onde vai ser construída a casa de força da usina hidrelétrica de Santo Antônio.

Mas ao se chegar perto dessas escavadeiras, é possível perceber dentro da cabine de direção, uma mulher no comando do equipamento.

O presidente da Santo Antônio Energia, Roberto Simões, disse que trabalham na obra cerca de 5.200 pessoas, das quais 86% são moradores da região de Porto Velho ¿ 12% são mulheres. O diretor do consórcio responsável pela construção da usina, Antônio Cardilli, conta que foi desenvolvido o projeto Acreditar, com o Senai, para oferecer treinamento e qualificação ao pessoal local.

Cardilli diz que dos 10 mil a 12 mil trabalhadores ¿ recrutados no pico da obra ¿, 70% teriam de vir de outras regiões.

¿ Isso nos preocupou muito, pois havia na região cerca de 25 mil desempregados sem qualificação.

Foi quando desenvolvemos o programa de qualificação com diversos cursos, o Acreditar ¿ destacou Cardilli, lembrando agora 86% são de mão de obra local.

Foi preciso oferecer até absorventes para elas E desse total, 684 trabalhadoras são mulheres. Cardilli conta que isso está provocando uma profunda mudança na cultura da empresa acostumada a lidar apenas com homens para esse tipo de trabalho pesado.

¿ Tivemos que colocar no canteiro banheiros femininos e oferecer absorventes. Agora, estamos tentando desenvolver um tipo de botas que mais se adapte a elas ¿ explicou Cardilli.

Telma Maria Rodrigues, de 31 anos, é um exemplo do interesse das mulheres em trabalharem em serviços pesados na obra da usina. Ela hoje é operadora de escavadeira e divide com colegas homens as manobras do caminhão para retirar toneladas diárias de pedras. Telma conta que era motorista de caminhão de lixo em sua cidade natal, em Candeias do Jamari, quando decidiu fazer o curso.

¿ Depois que me inscrevi no curso, escolhi a escavadeira, que eu achava bonita. E passei então a ser operadora ¿ conta com orgulho.

Telma afirmou que a nova profissão permitiu melhorar seu padrão de vida. Como motorista de caminhão de lixo, ganhava R$ 750 por mês. Agora, chega a ganhar R$ 1.700 mensais. Com isso, consegue dar uma vida melhor para seus três filhos.

As mulheres, segundo Cardilli, trabalham em diversas funções, de pedreiro, marceneiro, soldador a operador de empilhadeiras e esteira. Por sua vez, José Vagner, de 28 anos, também está começando uma nova profissão de operador de escavadeira.

Vagner, nascido e criado em Porto Velho, contou que antes trabalhava em um supermercado.

¿ Meu salário duplicou agora, é muito bom poder melhorar de vida sem precisar sair da nossa cidade ¿ disse.

O projeto Acreditar tem inscritas 34 mil pessoas para seus diversos cursos. Outros 11 mil já foram qualificados.

(*) A repórter viajou a convite do consórcio Santo Antônio Energia