Título: Plano de fixar preços diferentes causa discórdia
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 19/07/2009, Economia, p. 29

Diferenciação poderia reduzir o custo dos lojistas, que atinge 5%.

BRASÍLIA. A diferenciação de preços das mercadorias é outro problema delicado nessa guerra. Enquanto o governo quer essa liberdade, permitindo que lojistas trabalhem com diferentes preços, dependendo da forma de pagamento, a indústria é totalmente contra. A medida consta do relatório preliminar sobre o setor divulgado em março por Banco Central (BC), Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) e Secretaria de Direito Econômico (SDE).

O argumento principal é que a diferenciação será capaz de reduzir os custos dos lojistas, já que estes poderão cobrar menos por uma mercadoria se ela for comprada com dinheiro vivo, por exemplo.

Hoje, os comerciantes chegam a pagar 5% do valor da compra às empresas de cartões.

Apesar do documento preliminar, dentro da Seae ainda há uma certa resistência sobre a eficácia da medida, já que ela pode acabar elevando os preços ao consumidor final. Mesmo assim, a tendência é que seja implementada cedo ou tarde, já que até o Congresso Nacional trabalha em um projeto nesse sentido.

Há poucas semanas, o Senado aprovou a liberação de preços, porém o texto ainda tem de passar pelo crivo da Câmara.

Companhias temem aumento da informalidade Para a indústria, permitir preços diferentes pode levar a uma maior informalização, com consequências negativas até para a arrecadação do governo. As empresas de cartões também não gostam da ideia de reduzir os prazos de repasse das compras aos lojistas. Hoje, isso é feito em 30 dias e, na avaliação do governo federal, pode ocorrer em dois.

A indústria diz que, se isso ocorrer, inevitavelmente os prazos de pagamento dados aos consumidores que usam os cartões de crédito também serão reduzidos drasticamente.

Hoje, esse benefício pode ser de até 40 dias.

O governo, segundo uma fonte ouvida pelo GLOBO, reconhece esse risco, mas acredita também que a própria concorrência poderá evitar que os consumidores sejam muito prejudicados nesse ponto.

¿ Não é com pacotaço que se resolve tudo ¿ alertou um agente do mercado.

Para se defender, as empresas do setor questionam até mesmo o poder do BC e das secretarias para fazer mudanças desse quilate. Hoje, há muita discussão sobre quem comanda o setor de cartões. Para o governo, porém, essa questão não existe: entende se tratar, no limite, de operações bancárias e, desse modo, sob regulação direta do Banco Central.

(Patrícia Duarte)