Título: China amplia presença no país e investe US$ 15 bi
Autor: Rosa, Bruno; Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 19/07/2009, Economia, p. 31

Foco, de longo prazo, é em matérias-primas e consumo. Invasão de importados chineses aumenta ações "antidumping"

Com a intensificação do comércio entre Brasil e China, o país asiático tem aumentado seus investimentos aqui, numa estratégia de ampliar sua presença no maior mercado da América Latina. Mas, ao mesmo tempo em que a injeção de capital chinês no Brasil soma, no mínimo, US$ 15 bilhões em projetos de longo prazo ¿ segundo levantamento feito pelo GLOBO ¿, crescem as disputas comerciais entre os dois países.

A China já é alvo de sete investigações por prática de dumping (venda de produtos por preços abaixo do custo de produção), desde o agravamento da atual crise global, em setembro passado. Além disso, há 24 medidas antidumping em vigor contra importados chineses. Com isso, são 31 ações envolvendo as companhias dos dois países.

Importados chineses custam um quinto do similar nacional No caso dos investimentos chineses, a China atua em duas principais frentes: setores que complementam sua economia ¿ siderurgia, combustível e outras matérias-primas ¿ e segmentos em que busca abrir novos mercados, como veículos.

¿ Os setores de importância estratégica para a China são os que permitem ao país manter seu crescimento sustentado. E as empresas chinesas também buscam novos mercados, que possam substituir aqueles que vêm se retraindo, como EUA e Europa ¿ diz o presidente da Câmara do Comércio Brasil China, Charles Tang.

Multinacionais com atuação no Brasil e sede na China têm servido ainda de ponte para que empresas brasileiras busquem crédito em bancos estatais chineses.

Num momento de financiamentos escassos por causa da crise, a Huawei, de infraestrutura, ajudou a Oi em um empréstimo de US$ 300 milhões com os bancos chineses. Não por acaso, a Huawei é fornecedora da Oi de cabos e outros equipamentos de infraestrutura.

¿ Hoje, a companhia tem disponíveis US$ 45 bilhões, em linhas com bancos, para fazer a ponte com empresas mundo afora. No Brasil, há várias conversas em andamento ¿ diz Marcelo Motta, diretor de marketing da Huawei.

O avanço dos investimentos chineses vem ao lado de uma ¿invasão¿ de produtos importados do país. Para Welber Barral, secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, é natural que as empresas brasileiras tentem proteger seu mercado.

¿ O Brasil está entre os seis países que mais aplicam medidas de dumping ¿ ressalta.

As ações de dumping são apresentadas por empresas ou entidades brasileiras ao governo. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) decide se aplica ou não a medida antidumping ¿ normalmente, as empresas acusadas de praticar preços muito baixos passam a arcar com uma tributação extra para venderem seus produtos ao Brasil.

Empresas de calçados, cobertores, canetas esferográficas, produtos magnéticos e componentes para aparelhos de som aguardam parecer do governo.

Nesses casos, os similares chineses chegam ao Brasil com preço de até um quinto do praticado no mercado nacional.

¿ O próximo setor a sofrer será o siderúrgico. Em junho, a importação chinesa de chapa grossa veio por metade do preço registrado em março ¿ diz José Ricardo, economista da Guedes & Pinheiro Consultoria Internacional.

Estratégia chinesa é ampliar conteúdo tecnológico Mas a China também investe em tecnologia. Com isso, alguns itens estão chegando ao Brasil mais caros este ano. Levantamento feito pela Guedes & Pinheiro mostra que, dos 11 itens mais comprados pelo Brasil da China, oito tiveram alta em seus preços. O valor do quilo da categoria ¿outras partes para telefonia¿ subiu 25,5%, para US$ 160,21, e o de ¿circuitos impressos com componentes elétricos¿ avançou 50%, para US$ 262,20.

¿ A China quer trilhar o mesmo caminho de Japão e Coreia do Sul, que exportam tecnologia ¿ explica Josefina Guedes, sócia do escritório.

Anna Maria Guimarães, diretorageral da Kema, multinacional que presta serviços na área de energia, conta que a empresa foi credenciada pelo governo chinês para fazer a certificação de produtos e materiais.

¿ Hoje, temos dois laboratórios na China. O governo está interessado em investir em inovação ¿ diz Anna Maria.