Título: Duque também diz se lixar para a opinião pública
Autor: Camarotti, Gerson; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 17/07/2009, O País, p. 9

O CONGRESSO MOSTRA SUAS ENTRANHAS: Presidente do Conselho de Ética, que julgará Sarney, disse não temer a sociedade

PMDB faz ameaças a governistas e oposição para manter situação sob controle no Conselho de Ética

BRASÍLIA. Após admitir que não existe independência total na política, o novo presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), disse ontem que não costuma dar muita importância à opinião pública porque ela "é muito volúvel". A expectativa entre os aliados do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), é que Duque fará o que for preciso para livrá-lo das quatro denúncias e uma representação já protocoladas contra ele no Conselho. Mas não sem causar constrangimento.

Duque, de 81 anos, deixou claro ontem que não se deixará levar pela pressão popular ou da imprensa:

- Não estou preocupado com isso. A opinião pública é muito volúvel. Ela flutua. E quem tem muita influência sobre ela são vocês, jornalistas.

Duque disse ainda não temer cobranças da população, caso o Conselho arquive as denúncias contra Sarney:

- Não temo ser cobrado por nada. Quem faz a opinião pública são os jornais, tanto que eles estão acabando.

No Senado, clima é de ameaças e intimidações

Admitindo que não leu as denúncias, Duque minimizou a representação feita pelo PSOL que solicita a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra Sarney por ele ter sido um dos beneficiários dos 663 atos secretos que mandou anular na última segunda-feira:

- O PSOL não existe.

Além da decisão do comando do PMDB de barrar as tentativas de abertura de processo contra Sarney no Conselho, a operação para blindar o senador retomou o clima de ameaça e intimidação. Desta vez, não apenas entre governo e oposição, mas entre os próprios aliados. O recado do PMDB, repassado nos bastidores antes da debandada geral de senadores para o recesso parlamentar que começa amanhã, é claro: ou todo mundo se acalma no recesso, ou todo mundo vai parar no Conselho de Ética.

O grupo de Sarney já teria munição suficiente para representar contra vários senadores no Conselho, inclusive do PT. Vários partidos foram alertados que se houver reação à decisão de Duque de arquivar os pedidos de investigações, haverá uma avalanche de processos no colegiado.

A mensagem foi passada na quarta-feira, quando peemedebistas aproveitaram o tumulto sobre as declarações de Lula de que os senadores "são bons pizzaiolos". Como revelou ontem a coluna Panorama Político, do GLOBO, foram do PMDB 11 dos 30 votos contra a recondução do engenheiro Bruno Pagnoccheschi para uma diretoria da Agência Nacional de Águas (ANA). O nome era defendido pela bancada do PT e, especialmente, pela ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PT-AC).

oglobo.com.br/pais