Título: Fé para ser um partido político
Autor: Pariz, Tiago; D'Elia, Mirella
Fonte: Correio Braziliense, 17/03/2009, Política, p. 5

Duas agremiações religiosas buscam apoio popular com o objetivo de disputar eleições de 2010. Mas o caminho até conseguir o aval do TSE é demorado. Plenário do TSE: nanicos precisam de 300 mil assinaturas para assim ter chance de ser aprovados no tribunal. Em busca de projeção nacional, dois políticos depositam toda a fé na criação de novos partidos. De origens diversas, têm em comum o cristianismo como orientação e precisam do apoio de mais de 300 mil pessoas para conseguir o reconhecimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e disputar as eleições de 2010. O Partido Cristão (PC), idealizado por Ronaldo Morenno, e o Partido da Justiça Social (PJS), que tem o distrital Júnior Brunelli (DEM) à frente, diferenciam-se apenas no pano de fundo. O PC alega não ter apoio de nenhuma igreja, enquanto o PJS é ligado à Igreja Tabernáculo Evangélico de Jesus (ITEJ), conhecida como Casa da Bênção, em Taguatinga.

Até agora, Morenno conseguiu se organizar melhor mesmo sem o respaldo de uma entidade religiosa. O partido já tem representações em 22 estados e no Distrito Federal. Político de Americana, interior de São Paulo, tem histórico de militância em partidos nanicos ¿ foi filiado ao PMN e ao PHS ¿ e já disputou três vezes a prefeitura de sua cidade. A decisão de fundar o PC veio de uma constatação sobre a falta de ideologia nos atuais partidos e a defesa branda de valores caros à família.

Nesse vácuo político, Morenno almeja erguer uma legenda inspirada na história do PT e fugir da pecha de ser mais um nanico, partido de aluguel e fisiológico. ¿Nós só conseguiremos ser grandes se lançarmos candidatos em todas as esferas, em todos os estados que estivermos organizados¿, afirmou. As dificuldades têm sido montar estruturas no Rio Grande do Sul e em locais mais distantes, como Roraima e Amapá. ¿Organizar um partido é ir nesses locais, conversar com os políticos e convidá-los a se juntar a nós¿, disse.

O PJS aposta em outra estratégia. Segundo Marcus Galdino da Silva, que ajuda Brunelli na coleta de assinaturas, o que conta é a boa vontade de pessoas identificadas com a proposta da legenda. Apesar da relação com a Casa da Bênção, Galdino afirma que o partido caminha com as próprias pernas. Mas Brunelli fez carreira política na base evangélica e conquistou eleitores em meio às pregações do pai, o missionário Doriel de Oliveira, fundador da ITEJ. O distrital está no segundo mandato e tem o hábito de andar com a Bíblia embaixo do braço e fazer orações na Câmara Legislativa.

Independência Enquanto os políticos ainda engatinham na batalha para oficializar suas legendas, outros estão há mais de uma década na empreitada. Fundado há quase 12 anos, o Partido da Mulher Brasileira (PMB) tem um objetivo diferente: o de engrossar a participação feminina na política. Mas ainda não conseguiu sair do papel. Presidente da legenda, Suêd Haidar diz que até o fim de abril vai entrar com o pedido de registro no TSE. Segundo ela, o PMB já conseguiu reunir quase 700 mil assinaturas, três vezes a mais que o necessário. Mas Suêd quer esperar mais. ¿Queremos completar 1 milhão de assinaturas para virmos fortes. Não nos atrelamos a nenhum grande empresário para poder ter independência¿, disse.

Para ser oficializado, um partido precisa vencer várias etapas. Primeiro é necessário aprovar a proposta em reunião com a presença de pelo menos 101 pessoas. A ata, o programa e o estatuto têm que ser registrados em cartório. Depois, começam as coletas de assinaturas. O total reunido deve corresponder a 0,5% dos votos computados para a Câmara dos Deputados, em pelo menos nove estados, o que equivale a 269 mil assinaturas. Depois de tudo isso, ainda é preciso reunir as certidões dadas pelos tribunais regionais eleitorais (TREs) de cada estado e apresentá-las ao TSE, a quem cabe a palavra final. A burocracia leva muita gente a desistir. Mas quem consegue chegar até o fim tem direito a uma fatia do fundo partidário e pode fazer propaganda em rádio e TV, além de lançar candidatos para participar de eleições. Atualmente, 27 partidos têm registro no TSE.