Título: Obama: ainda há preconceito racial nos EUA
Autor:
Fonte: O Globo, 17/07/2009, O Mundo, p. 28

Primeiro presidente americano negro diz que outras minorias também são discriminadas, e que educação é a saída NOVA YORK. Em suas referências mais diretas à questão racial dos Estados Unidos desde que chegou no poder, o presidente americano, Barack Obama, afirmou ontem que os negros de seu país ainda sofrem discriminação. Porém, Obama afirmou que isso não é motivo para que os jovens negros não se empenhem em seus estudos, e que é possível vencer, chegando até onde ele próprio está hoje. Além disso, o presidente lembrou que outras minorias do país também sofrem preconceito, e que a luta para acabar com este tipo de atitude deve ser nacional. ¿ Não tenham dúvida: a dor da discriminação ainda é sentida nos Estados Unidos ¿ disse Obama, o primeiro presidente negro do país. ¿ Ela é sentida por mulheres negras que recebem menos realizando o mesmo trabalho que colegas de cor e gênero diferentes. Por hispânicos, que acabam se sentindo intrusos em seu próprio país. Por muçulmanos americanos que são vistos com suspeita somente por se ajoelharem para rezar. Por nossos irmãos e irmãs gays, que ainda são ridicularizados, ainda são atacados, ainda têm seus direitos negados. O discurso foi feito para comemorar os cem anos da fundação da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), entidade histórica que liderou o movimento para a conquista dos direitos civis dos negros nos EUA. Obama afirmou que só atingiu a Presidência dos Estados Unidos devido a figuras históricas da NAACP, como W.E.B. DuBois e Thurgood Marshall. Obama afirmou que os efeitos da atual crise econômica são mais sentidos por negros do que por brancos. Segundo o presidente, eles têm uma taxa de desemprego maior e são mais afetados por doenças, ao mesmo tempo em que um número menor de famílias de negros tem planos de saúde. Uma criança negra tem cinco vezes mais chance de ser presa no futuro do que uma branca nos EUA de hoje. Mulheres que sofrem abusos poderão pedir asilo nos EUA Mas o presidente voltou a adotar o tom que utilizou durante a campanha presidencial, dizendo que os negros não devem simplesmente aceitar o preconceito e usá-lo como desculpa para sua falta de sucesso profissional. Para ele, a saída é a educação. ¿ Temos que dizer para nossos filhos: "Sim, se você é negro, as chances de crescer entre crimes e gangues são maiores. Sim, se você vive num bairro pobre, enfrentará desafios que quem nasce num bairro rico não terá." ¿ disse Obama. ¿ Mas isso não é motivo para tirar notas ruins, ou para matar aula, ou desistir de estudar e largar a escola. Ninguém escreveu seu destino para você. Seu destino está nas suas mãos, e não se esqueçam disso. O discurso foi feito no dia em que o governo Obama abriu o caminho para que mulheres estrangeiras vítimas de violência doméstica e abusos sexuais possam pedir asilo nos EUA. A medida anula uma posição do governo George W. Bush numa batalha legal sobre as possibilidades de mulheres agredidas serem consideradas refugiadas. Além de atender a pré-requisitos rígidos para conseguirem asilo, as vítimas de abusos precisarão mostrar que são tratadas pelos agressores como subordinadas e quase como uma propriedade, e que a violência doméstica é amplamente tolerada em seu país. Precisam provar que não poderiam conseguir proteção de instituições de sua terra natal nem se mudar para outra parte do próprio país.