Título: Quase 280 terceirizados têm parentes no Senado
Autor: Vasconcelos , Adriana
Fonte: O Globo, 18/07/2009, O País, p. 4

BRASÍLIA. A suspeita de que o nepotismo no Senado continuava ocorrendo, de forma disfarçada, nas empresas terceirizadas que prestam serviço à Casa se confirmou: dos 3.516 servidores terceirizados mantidos atualmente pelo Senado, nada menos que 278 admitem ter algum grau de parentesco com funcionários comissionados ou efetivos e até com senadores. Distribuídos em 16 dos 34 contratos mantidos atualmente pela instituição, a um custo anual de R$155 milhões, esses servidores estão na mira do 1º secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI).

Segundo o novo coordenador do núcleo de gestão destes contratos, Dirceu Teixeira, a ordem de Heráclito é demitir todos aqueles que têm parentes na Casa, afastando suspeitas de que a instituição estaria sendo conivente com uma espécie de nepotismo terceirizado, depois que o Supremo Tribunal Federal decretou o fim dessa prática.

- Há uma determinação do 1º secretário para que esses servidores com parentes na Casa sejam identificados e dispensados. Até porque ninguém vai ser ingênuo para acreditar que esse número tão alto seja apenas uma coincidência - adiantou Teixeira ao GLOBO.

- Vamos começar a tomar as providências cabíveis a partir da próxima semana - confirmou Heráclito, que recebeu na quinta-feira um relatório de comissão técnica, que aplicou um questionário aos terceirizados.

Parente de Paulo Paim está na lista de terceirizados

Segundo o relatório, 37 funcionários se recusaram a responder se tinham ou não parentes trabalhando na Casa ou simplesmente não foram localizados. A comissão não divulgou a lista dos terceirizados que têm parentes, mas a reportagem identificou pelo menos um parente de senador - Paulo Paim (PT-RS) - e diretores.

Em algumas empresas, o percentual de "terceirizados parentes" fica acima da média geral, de quase 8%. Dos 429 trabalhadores da Aval Serviços Especializados, na área de informática, pelo menos 69 (16%) admitem o nepotismo disfarçado. E pelo menos 42 deles têm pai ou mãe trabalhando na instituição.

Na Aval está, por exemplo, Reilca Oliveira Maia, que aponta o tio Oto da Silva Maia como único parente no Senado. Mas na Casa ninguém desconhece que Oto Maia é irmão do ex-diretor-geral Agaciel Maia.

Para garantir o emprego de pelo menos oito parentes no gabinete de Gilvam Borges (PMDB-AP), o servidor Fernando Aurélio de Azevedo Aquino abriu mão da função comissionada. Mas ainda tem outro parente entre os terceirizados, na Aval: a cunhada Suzana Araújo Avelino. Antes de empregar a família na Casa, ele atuou em 2006 como advogado da coligação que elegeu o governador Waldez Góes, no Amapá, e Sarney.

Uma outra servidora do Senado, Maria Aparecida Roquete Furtado, que trabalha na Secretaria de Arquivo, tem as duas filhas no quadro da Aval.

Empresa contratada pode ter funcionários fantasmas

Na recém-contratada Plansul - Planejamento e Consultoria, dos 337 servidores, pelo menos 26 confirmaram ter parentes na Casa e dois assumiram que recebem de mais de uma empresa que presta serviço ao Senado. A Plansul admitiu que 23 de seus servidores não foram encontrados para responder a consulta, levantando suspeitas de que a empresa mantém funcionários fantasmas.

No principal contrato mantido pela Adservis, que emprega 736 contínuos e copeiros, pelo menos 79 terceirizados admitiram ter parentes, sendo que 33 são filhos de servidores efetivos. Em um dos contratos, dos 73 trabalhadores, 22 declararam ter parentes na instituição, entre eles Alexandre Rafael Carvalho Paim, sobrinho de Paulo Paim. Procurado pelo GLOBO, o senador não retornou.

A Adservis abriga ainda Felipe de Baère Cavalcanti, filho da diretora de Taquigrafia do Senado, Denise Baère. Gerusa Jaske Maruyama é outra contratada pela empresa que tem um tio diretor, Agnaldo Scardia, da Secretaria de Telecomunicações.