Título: A longa espera por atendimento
Autor: Costa , Célia
Fonte: O Globo, 18/07/2009, Rio, p. 9

O aumento do número de casos de gripe suína registrados no país e a confirmação da primeira morte no Rio pelo vírus H1N1 provocaram uma corrida às unidades de saúde pública do Rio, durante todo o dia de ontem. Por causa da grande procura, formaram-se longas filas, em que o tempo de espera chegava a seis horas. Algumas pessoas com sintomas da doença chegaram a peregrinar por várias unidades em busca de um diagnóstico.

Na emergência do Hospital Souza Aguiar, no Centro, onde cerca de 50 pessoas esperavam atendimento, no fim da tarde de ontem, a reclamação era generalizada. Francisca Souza, de 45 anos, chegou às 14h com o filho Tadeu Souza, de 17, depois de passar pela UPA da Tijuca. Às 17h40m, Tadeu, que estava com febre e tosse, ainda não tinha sido atendido.

- Dizem que só tem um médico atendendo. A fila está cheia de gente com gripe - disse Francisca.

No Hospital Miguel Couto, na Gávea, Nadir Barril se queixava da longa espera. Ela chegou às 14h com a neta Mariane Oliveira, que tinha febre e vômitos. Às 18h30m, a jovem ainda não tinha sido examinada:

- Lá dentro tem uma fila quilométrica. Algumas pessoas estão esperando desde as 11h - contou Nadir.

Rio pode ter polos de atendimento

Nas UPAs, a situação não era diferente. Valesca Lopes da Silva, de 23 anos, levou a filha de 2 anos à UPA de Irajá, mas foi informada de que não havia pediatra na unidade e que ela deveria procurar a UPA da Penha. Preocupada porque o pai da menina teve contato com pessoas que pegaram gripe suína, Valesca encontrou enormes filas na UPA da Penha, onde, às 13h, Claudio dos Santos Martins ainda esperava atendimento para os dois filhos, que chegaram às 8h.

No local, uma menina de 6 anos, internada anteontem, deixou a unidade usando máscara. Os médicos descartaram a possibilidade da criança ter sido contaminação, apesar de a professora da criança ter tido o diagnóstico confirmado.

No Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, o tempo de espera passava de três horas, mas não fez a dona de casa Sônia da Silva desistir. Ela procurava atendimento para a filha e uma sobrinha, que estavam com dor de cabeça e febre. Elas já haviam passado pelos postos de Cascadura, Marechal Hermes e Engenho de Dentro.

As Secretarias municipal e estadual de Saúde informaram que o aumento da procura nas redes está compatível com o mesmo período dos anos anteriores, por causa das doenças respiratórias típicas da estação. A Prefeitura, no entanto, estuda a criação de pólos de atendimento, nos moldes dos que já existem no Rio Grande do Sul. Neles, seria feita a triagem dos pacientes com sintomas de gripe. Em reunião entre representantes das redes federal, estadual e municipal de saúde e também dos hospitais particulares, ficou decidido que os médicos devem tratar todos os pacientes com agravamento de quadro de gripe como suspeitos. As pessoas com febre, tosse, coriza, dor muscular e doença respiratória aguda devem ser internadas e monitoradas. O Ministério da Saúde anunciou que comprará mais 160 respiradores, um aparelho usado para ajudar o paciente a respirar. O equipamento vai ser encaminhado para os hospitais de referência.

Na rede particular, também houve aumento na procura. Segundo a direção do Hospital Pasteur, no Méier, o número de atendimentos na emergência dobrou. No Quinta D´Or, em São Cristóvão, triplicou o atendimento pediátrico e duplicou o de adultos. No Copa D´Or, cresceu em 50% a procura, levando a unidade a abrir, na segunda-feira, um setor apenas para o atendimento de pessoas com gripe.