Título: Seis hospitais federais devem ganhar blindagem
Autor: Braga , Ronaldo
Fonte: O Globo, 18/07/2009, Rio, p. 11

O governo federal planeja instalar, até 2011, blindagem em seis hospitais da sua rede no Rio. Isso poderá ser feito com grandes venezianas de aço ou paredes de concreto, construídas a cerca de um metro dos prédios. As informações foram dadas ontem pelo diretor da Rede Hospitalar Federal no Rio de Janeiro, Oscar Berro. Segundo ele, as obras de proteção das unidades fazem parte de um projeto de reestruturação, cujos gastos devem chegar a R$500 milhões. No fim da tarde de quinta-feira passada, uma bala perdida atingiu uma sala do centro cirúrgico do Hospital Geral de Bonsucesso (HGB), no quinto andar.

De acordo com Oscar Berro, a maioria dos seis hospitais fica em área de risco.

- A única unidade que não está é a da Lagoa, na Zona Sul - disse.

Hospitais ganharão também reforço de pessoal

Além do Hospital da Lagoa, ganharão blindagem, para proteger de balas perdidas funcionários e pacientes, o HGB, o Hospital de Jacarepaguá (Cardoso Fontes), o Hospital dos Servidores do Estado (no Centro) e o Hospital de Ipanema. Oscar Berro acrescentou que a reestruturação inclui ainda contratação de mais servidores, com a abertura de concurso público.

- Será uma mudança radical. Faremos uma reestruturação nos prédios, nos equipamentos, nos serviços, em toda a infraestrutura. Haverá principalmente melhorias físicas - explicou o diretor da Rede Hospitalar Federal no Rio de Janeiro.

Entre as medidas previstas, está a instalação de câmeras de TV e a colocação de chips em equipamentos, para facilitar a sua localização em caso de roubo, além da melhoria da capacitação dos funcionários que trabalham na segurança.

Investigadores da 21ª DP (Bonsucesso) já têm informações de que o tiro de fuzil que atingiu o centro cirúrgico do HGB, entre 17h e 18h de anteontem, teria partido da Avenida Leopoldo Bulhões, junto à Favela de Manguinhos, onde traficantes e policiais do 22º BPM (Maré) na hora trocavam tiros. Apesar de ter havido o confronto próximo à unidade, policiais ainda não descartam a possibilidade de o disparo ter partido de outro ponto. Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) examinaram a sala - que no dia ficou fechada - por duas horas na própria quinta-feira e informaram que o resultado deverá ficar pronto na próxima semana.

- Só com o laudo é que teremos uma ideia de onde veio a bala - disse a delegada titular da 21ª DP (Bonsucesso), Valéria de Castro.

Bala destruiu aparelho para ver radiografias

Segundo o Hospital Geral de Bonsucesso, havia sido realizada uma cirurgia 20 minutos antes na sala atingida. A bala de fuzil, que foi encontrada, ricocheteou na parede e destruiu um aparelho utilizado para visualizar slides de radiografias, conhecido como negatoscópio. Ninguém se feriu.

Uma reportagem publicada pelo GLOBO em 2004 mostrou que médicos e outros funcionários do Hospital Geral de Bonsucesso tinham medo até de deixar a unidade à noite, por causa da violência. Cercado por 24 favelas e em plena "Faixa de Gaza", o hospital já tivera na época três setores atingidos por balas perdidas. De todos os pontos do prédio, que fica na Avenida Brasil, é possível ouvir os tiroteios que ocorrem nas favelas próximas. Um cirurgião contou que foi surpreendido por um helicóptero diante da janela do centro cirúrgico quando operava um paciente. Do lado de fora, policiais armados, pendurados na aeronave, davam sucessivos tiros para baixo.