Título: Suplente da tropa de Renan presidirá Conselho
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 16/07/2009, O País, p. 4

O CONGRESSO MOSTRA SUAS ENTRANHAS: Mercadante protesta e diz que responsabilidade sobre colegiado será só do PMDB

Maria Lima

BRASÍLIA. Além de admitir não conhecer o teor das denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o senador suplente Paulo Duque (PMDB-RJ), eleito presidente do Conselho de Ética, ontem, reconheceu que sua escolha para o posto decorreu da força do PMDB e de seu líder, Renan Calheiros (AL). Duque, de 81 anos, disse que a independência do Conselho é questionável, e, em discurso, fez a defesa dos suplentes no Senado. Sobre o fato de ter sido indicado pela tropa de choque de Renan, disparou:

- Não existe independência total na política, pode escrever aí. Isso é assim em todo Congresso Nacional, em todo lugar, e aqui também.

Duque foi puxado por Romeu Tuma (PTB-SP), preocupado com suas declarações aos jornalistas.

Líder petista envia carta a candidato preterido

O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), enviou carta ao senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), que indicara para presidir o Conselho, dizendo-se surpreso com a decisão do PMDB de indicar Duque e não apoiá-lo. Valadares deixou o Conselho. O petista afirma que, diante desse quadro, a responsabilidade pelas decisões do Conselho será apenas do PMDB.

"Diante desse quadro, o bloco de sustentação ao governo, que teve dois senadores renunciando à condição de membros efetivos, evidentemente não tem condições de indicar outro nome para a presidência. As duas vagas serão preenchidas temporariamente pelos respectivos suplentes. E a responsabilidade pelo desdobramento quanto à presidência do Conselho de Ética, no que se refere à base, passa a ser inteiramente da bancada do PMDB", diz a carta.

Depois de empossado, Duque quis discursar de pé. Sua fala foi desconexa. Ficou emocionado e, depois, emudeceu. Bastante vermelho, parou, de braços abertos, encarando o plenário.

- Senta e tome um gole de água, por favor! - gritou Wellington Salgado (PMDB-MG), temendo que passasse mal.

Recuperado, Duque confessou que nunca esperava ocupar o cargo e chamou senadores de deputados. E fez uma apologia dos suplentes.

- Vou fazer minha primeira confissão: imagino a dificuldade de vocês, que vieram dos estados, que foram eleitos. Eu não, sou suplente. Só gastei meia dúzia de reais para chegar aqui. Mas os suplentes têm grande importância nessa Casa! São 20 suplentes ao todo! Só aqui nesse Conselho são cinco. E os suplentes têm que continuar existindo - defendeu o 2º suplente do governador do Rio, Sérgio Cabral.

Quando Demóstenes Torres (DEM-GO) quis saber se Duque cumpriria o regimento e, após o recesso, o prazo de cinco dias úteis para marcar nova sessão e despachar sobre as denúncias e representações já encaminhadas, o presidente respondeu:

- Preciso de um prazo para estudar ....

- Mas o regimento diz que, havendo o recesso, isso deve acontecer na volta, em cinco dias úteis - disse Demóstenes.

- Para meu esclarecimento, pergunto ao senador: quando começa e quando termina o recesso? - perguntou Duque.

O senador disse não acreditar que ficará desacreditado por ter sido imposto por Renan:

- O outro candidato desistiu. Não sei porque Renan me escolheu. Será por causa dos meus olhos azuis?