Título: Otimismo de volta a empresários
Autor: Rodrigues, Eduardo; Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 21/07/2009, Economia, p. 19

Confiança sobe pela 1ª vez desde setembro, diz CNI. Para Ipea, retomada de investimento demora

Pela primeira vez desde setembro do ano passado, quando a crise financeira global se agravou, as indústrias brasileiras, que produzem cerca de um terço da riqueza nacional, estão enxergando a economia com otimismo. De acordo com a pesquisa trimestral da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem, a confiança do empresariado atingiu 58,2 pontos, voltando a figurar acima da média histórica do indicador (57,9) e deixando para trás o fundo do poço atingido em janeiro deste ano (47,4).

Outra pesquisa divulgada ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), porém, mostra que a cautela ainda predomina entre o empresariado. Apesar de mais um avanço de seu indicador antecedente - o Sensor Econômico - em junho, o órgão reconhece que o aumento de confiança está longe de representar a curto prazo a retomada de investimentos ou a contratação de mais empregados.

No levantamento da CNI, números abaixo de 50 representam pessimismo. Dos 27 setores acompanhados pela entidade, 25 apresentaram otimismo em relação à economia e seus negócios. Apenas os fabricantes de couros e produtos de madeira continuam pessimistas. Já na sondagem do Ipea, numa escala de -100 (pessimismo absoluto) a +100 (desenvolvimento econômico e social), o Sensor chegou a 9,82 pontos no mês passado, contra 7,79 em maio e 6,78 em janeiro - início da sondagem, realizada junto a 115 entidades ligadas a indústria, comércio, serviços e trabalhadores. Na média, esses empresários e trabalhadores continuam apreensivos com a situação econômica.

Para a CNI, entre os fatores que motivaram a boa avaliação dos empresários estão a manutenção das desonerações por parte do governo, a redução dos juros - foram 4,5 pontos percentuais de queda desde janeiro - e a retomada do volume de crédito disponível no mercado.

- A confiança generalizada mostra que os empresários já enxergam recuperação no horizonte. Esse otimismo pode significar o retorno dos investimentos - afirma o gerente-executivo da Unidade de Pesquisa da CNI, Renato da Fonseca.

Mercado vê queda da Selic para 8,75%

Um dos destaques da pesquisa da CNI foi a confiança da indústria de calçados, que saltou de 45,3 pontos em abril para 55 pontos. Segundo o diretor-executivo da associação do setor (Abicalçados), Heitor Klein, isso se deve à resposta do mercado doméstico nos últimos meses:

- Houve crescimento de 5% nas vendas, na comparação com o primeiro semestre do ano passado. Isso deixa os fabricante com perspectivas de aumento des encomendas.

A chegada do inverno também aqueceu a indústria têxtil e de vestuário, cujos índices de confiança aumentaram 8,5 e 9,6 pontos, respectivamente, para 58,6 e 59,1 pontos.

- Esse salto positivo é uma combinação das boas notícias que começaram a surgir com o bom movimento no varejo. Além disso, o segundo semestre é sempre melhor para o setor, porque nosso forte é a primavera-verão - disse o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel.

No caso do Sensor Econômico do Ipea, a alta de junho foi a quarta consecutiva. Apesar disso, o indicador ainda não apresentou variação significativa para quesitos como utilização da capacidade instalada e novos investimentos. O resultado para a utilização da capacidade instalada, que estava na faixa de -2 em janeiro, apareceu em junho com -30. No mesmo período, a indicação para novos investimentos ficou estagnada.

- Percebemos uma clara melhora nas expectativas dos empresários, que veem maior demanda e custos menores para financiamentos. Mas não há perspectivas de aumento de investimentos e de contratação de funcionários - afirmou o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.

Para ele, cortes de juros poderão aumentar o "espaço fiscal" do governo, que ganharia fôlego para conceder desonerações a novos setores. O presidente do Ipea defende também um entendimento entre governadores e prefeitos para a redução de ICMS.

Em linha com a pesquisa do Ipea, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) vê "uma discreta retomada" do setor, puxada pela desoneração para itens da linha branca. Apesar da alta nas vendas em junho, 41% das empresas entrevistadas esperam queda no ano.

No mercado financeiro, a estimativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), vá reduzir em meio ponto percentual a taxa básica de juros Selic, para 8,75% ao ano. Foi o que mostrou ontem a pesquisa semanal Focus do BC, indicando que esse patamar de juros deve permanecer ao menos até o segundo semestre de 2010. Para 2009, os especialistas esperam que a inflação pelo IPCA feche em 4,53%, acima da estimativa anterior de 4,50%, centro da meta do governo. Para 2010, a previsão é de 4,41%.

As exportações e as importações acentuaram ainda mais a queda nas primeiras semanas deste mês (até o dia 19), se for considerada a média diária. Em relação ao mesmo período do ano passado, as vendas externas encolheram 30%, de US$889,2 milhões para US$689 milhões. O mesmo ocorreu com as compras, que recuaram 38,7%, para US$456,7 milhões. A balança comercial registrou em julho (até a terceira semana) superávit de US$2,151 bilhões, contra US$3,329 bilhões no mesmo período do ano passado.

COLABORARAM Patrícia Duarte e Geralda Doca