Título: Diretoria do FMI aprova aporte de US$250 bi para países em crise
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 21/07/2009, Economia, p. 22

Proposta foi sugerida pelo G-20 para elevar liquidez mundial em US$1,1 tri

WASHINGTON. A diretoria-executiva do FMI aprovou ontem um plano de alocação de US$250 bilhões nos chamados Direitos Especiais de Saque (SDR, da sigla em inglês, espécie de moeda do Fundo) para os 186 membros da instituição, como forma de aumentar a liquidez mundial e ajudar os países em dificuldade por causa da crise econômica. A proposta faz parte de um projeto do G-20 para aumentar em US$1,1 trilhão a liquidez mundial, acertado em abril durante uma reunião em Londres.

Como a idéia de aumentar os SDR partiu do G-20, a proposta da diretoria-executiva deverá ser aprovada sem problemas pelo conselho de governadores do Fundo (formado pelos ministros de Fazenda, Planejamento e presidentes de bancos centrais, que representam os países-membros) em sua reunião do dia 7 de agosto. Para isso, é necessário que 85% dos países-membros do conselho acolham a idéia.

Alocação pode ser embrião de novo sistema de moeda

A alocação dos SDR obedece à tradicional divisão de cotas do Fundo, e o Brasil receberá US$3,5 bilhões, proporcional à sua cota de 1,4% na instituição. Da mesma forma, nada menos que US$150 bilhões vão para os países desenvolvidos, e apenas US$100 bilhões para os emergentes e subdesenvolvidos, que têm apenas 40% das atuais cotas do Fundo. Os países realmente pobres receberão US$18 bilhões do total. Mas a alocação dos SDR é, segundo o diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países da região no FMI, Paulo Nogueira Batista Jr., o mais importante evento desde a criação dos SDR, em 1967, no Rio de Janeiro:

- Como os SDR podem ser usados pelos países-membros para aumentar suas reservas, essa nova alocação pode ser o embrião de um novo sistema de moeda para as reservas internacionais, diminuindo a dependência de moedas tradicionais, como o dólar ou o euro.

Ante a volatilidade do dólar nos mercados internacionais e das perspectivas ainda sombrias para a economia dos EUA, alguns países, como Brasil, Rússia e China estão estudando o uso de outras moedas para compor suas reservas internacionais. Além do SDR, esses países querem que futuros aportes em dinheiro dos países-membros sejam usados para comprar títulos do FMI, que iriam integrar suas reservas em moedas estrangeiras.

- A alocação de SDR é parte importante da resposta do Fundo à crise global, oferecendo apoio aos países-membros nesse período difícil - disse o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. - Essa operação é um bom exemplo de cooperação monetária em resposta à crise financeira global.

Para combater a crise, o FMI prepara mecanismos de captação de dinheiro entre seus membros, com o objetivo estabelecido pelo G-20 de chegar, a curto prazo, ao montante de US$750 bilhões para empréstimos.

O FMI também pretende captar com a criação de um papel que deverá ser comprado por seus países-membros (esse é o papel a ser adquirido por Brasil, China e Rússia caso os títulos possam integrar reservas internacionais). O Brasil se comprometeu a injetar US$10 bilhões nesses títulos. A Rússia também. A China injetará US$50 bilhões. Outros recursos virão de aportes diretos de alguns países, como Japão e Canadá, que se dispuseram a injetar mais de US$100 bilhões sem contrapartidas.