Título: Lula cobra internacionalização do BB e sugere novas aquisições de bancos
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 21/07/2009, Economia, p. 23

"A crise é uma oportunidade incomensurável para o Brasil", diz presidente

LULA E Bendine: "O BB precisa virar o banco mais importante da geografia política do nosso continente"

BRASÍLIA. Para uma plateia de mais de 350 superintendentes do Banco do Brasil (BB), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem a internacionalização da segunda maior instituição financeira do país, movimento que, defendeu, é importante para fortalecer a instituição. Lula disse que o BB teria que se pautar pela balança comercial do país e atuar mais fortemente em territórios de grandes parceiros, como a China, a América Latina e a África. Como exemplo, o presidente citou a ação da Petrobras na esfera internacional e aproveitou para sugerir que o BB continue sua política de aquisições de outros bancos.

- Acho que essa crise é uma oportunidade incomensurável para o Brasil - disse Lula, que falou por cerca de 30 minutos para os funcionários do BB, o presidente do banco, Aldemir Bendine, e o ministro interino da Fazenda, Nelson Machado.

Lula: vamos ser sócios de Banco do Brasil e Caixa

Hoje, o BB está presente em 23 países, mas possui apenas 44 pontos de atendimento. Desse total, seis são escritórios que deverão se tornar agências em breve. Segundo o vice-presidente de Atacado e Negócios Internacionais do banco, Allan Simões, três dos quais já neste segundo semestre: Venezuela, México e Uruguai. Ao todo, será investido R$1 milhão por agência. Na China, hoje o principal parceiro comercial individual do Brasil, o BB deve abrir uma agência apenas em 2010.

- O BB precisa virar o banco mais importante da geografia política do nosso continente - afirmou Lula.

Descontraído, Lula, que usou crachá do BB com seu nome, defendeu que o banco continue sua política de aquisições. O presidente lembrou que as compras de Nossa Caixa e de parte do Votorantim foram importantes, bem como as aquisições de carteiras de crédito de outras instituições, no auge da crise internacional, no fim de 2008.

- Não quero que o BB saia dando dinheiro. Quero que ele empreste e receba de volta - disse o presidente, que, porém, não fez menção sobre as taxas de juros e os spreads do BB.

Em abril, Lula demitiu da presidência do BB Antonio de Lima Neto, porque o executivo não reduzia os juros da instituição. Pôs em seu lugar Bendine, funcionário de carreira alinhado à visão do governo. Indagado ontem se Lula ainda cobrava mais cortes nos juros, Bendine disse:

- Ele (Lula) está satisfeito com esse movimento (já feito pelo banco).

Apesar do discurso de Lula em favor de novas aquisições, Bendine disse que, por enquanto, não há novidade no horizonte. Hoje, o BB conversa com o governo do Distrito Federal para comprar o Banco de Brasília (BRB), mas sem pressa. Segundo fontes, o banco quer se concentrar em negócios que não exijam aquisições, como financiamento de veículos.

Lula defendeu a atuação dos bancos públicos - BB, Caixa Econômica Federal (CEF) e BNDES - no combate aos efeitos da crise internacional. Brincou que, se o presidente dos EUA, Barack Obama, tivesse "um banco como o BB", não teria enfrentado tantos problemas por causa da crise.

- Uma das razões pelas quais a crise foi mais profunda (nos países desenvolvidos) é que eles não tinham bancos que tivessem responsabilidade com crédito. Isso fez a diferença.

Sobre o setor imobiliário, Lula disse que o BB tem que se unir à CEF. Segundo ele, a Caixa não terá força sozinha para acompanhar o mercado brasileiro no futuro, apostando que haverá forte crescimento econômico.

- Acho que só a CEF não dá conta da dimensão do que vai acontecer no país nos próximos anos (no mercado imobiliário). Vamos entrar lá e ser sócios. BB e CEF, porque senão a gente não acompanha o crescimento. (colaborou Luiza Damé)