Título: Violência matará 33 mil adolescentes até 2012
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 22/07/2009, O País, p. 10

Número de vítimas de assassinato, desde 2006, equivale a dois aviões caindo por mês; 10% delas são do Rio

Demétrio Weber

BRASÍLIA. Um estudo divulgado ontem, com base em dados do Ministério da Saúde e do IBGE, estima que 33.504 jovens de 12 a 18 anos serão vítimas de assassinato entre 2006 e 2012, caso as taxas de homicídio de 2006 permaneçam inalteradas. A pesquisa considera as 267 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. O Rio responde pelo maior número absoluto: 3.423 (10% do total) morreriam até 2012.

De todos os jovens mortos no Brasil em 2006, 45% foram vítimas de homicídio, informa o levantamento realizado pelo Laboratório de Análise da Violência, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Ao analisar dados dos 267 municípios, os pesquisadores calcularam o risco de um jovem com 12 anos em 2006 ser assassinado até 2012, antes de completar 19.

- São quase 5 mil mortes por ano. Significa 22 Airbus como o da Air France caindo anualmente, quase dois por mês. E por que isso não impacta a opinião pública? - reage o representante-adjunto no Brasil do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Manuel Buvinich.

Ele lembra que o Brasil tem avançado no combate à mortalidade infantil, mas lamenta que as vidas poupadas sejam aniquiladas a partir da adolescência.

- As crianças que o país salvou começam a morrer aos 12 anos - diz Buvinich.

O levantamento foi feito para o Programa de Redução da Violência Letal contra Adolescentes e Jovens, iniciativa do Observatório de Favelas, do Unicef e da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH), do governo federal. O estudo cria o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), que permite comparar o grau de violência em municípios de tamanho diverso. O IHA projeta quantos jovens serão mortos até 2012, para cada grupo de mil na mesma faixa etária.

Foz do Iguaçu (PR), na fronteira com o Paraguai, tem o maior índice (9,74), seguida por Governador Valadares (MG), com 8,49, e Cariacica (ES), com 7,32. A média nas 267 cidades ficou em 2,03, dobrando para 4,16 nas dez capitais com maiores taxas de homicídio.

O Rio, com 4,92, tem o 21º maior IHA e, entre as capitais, é proporcionalmente a terceira mais violenta, atrás de Maceió e Recife. Dos 20 municípios com maiores taxas de assassinato de jovens, três são fluminenses: Duque de Caxias (6,1), Itaboraí (6) e Cabo Frio (5,4).

- Tudo o que não for abaixo de 1 é inaceitável - diz o sociólogo e coordenador técnico do estudo, Ignácio Cano, do laboratório da Uerj.

O levantamento mostra que as armas de fogo são o principal instrumento para matar: na média, os 23 municípios do RJ têm a taxa mais alta de risco de assassinato por arma de fogo: 6,2 vezes mais do que os demais meios de matar. Na média dos 267 municípios pesquisados, o risco de ser assassinado por arma de fogo é 3,2 vezes maior.

- A restrição a armas de fogo é um imperativo, sobretudo no Sudeste - afirmou Cano.

A probabilidade de ser vítima não é a mesma para toda a população. Rapazes têm 11,91 vezes mais risco do que moças; negros, 2,6 vezes mais do que brancos. A faixa etária com maior incidência de assassinatos vai dos 19 aos 24 anos.

A representante do Observatório de Favelas, Raquel Willadino, explicou que o estudo focou na população de 12 a 18 anos para mostrar que as políticas de prevenção da violência devem começar mais cedo. Na faixa de 0 a 11 anos, quase não há assassinatos de crianças, mas o quadro muda radicalmente depois.

A subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente da SEDH, Carmen Oliveira, disse que os dados são alarmantes. Segundo ela, as causas da violência variam em cada município, mas o problema gira em torno de três eixos: dívidas de usuários de drogas com traficantes; exploração sexual de meninas; disputas territoriais entre gangues. A evasão escolar é outra premissa.

Carmen considera que a opinião pública não presta atenção ao problema das mortes de jovens, especialmente porque as maiores vítimas são rapazes pobres, negros e da periferia:

- Antes de ser um fora da lei, o adolescente foi abandonado pela lei. A evasão escolar está na ponta do problema.

Um grupo de trabalho vai aprofundar a pesquisa nos municípios, mapeando iniciativas já em andamento para reverter o quadro.