Título: Corte de juros antecipado
Autor: Duarte,Patrícia ; Damé,Luiza
Fonte: O Globo, 22/07/2009, Economia, p. 19

Na véspera do Copom, Caixa e Nossa Caixa reduzem taxas. Para mercado, Selic vai cair 0,5 ponto

Patrícia Duarte e Luiza Damé

Na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central - que, pelas projeções do mercado financeiro, deverá reduzir o ritmo de corte na taxa básica de juros Selic - bancos públicos anunciaram ontem novas reduções nas taxas cobradas do consumidor final. A Caixa Econômica Federal, de novo, se antecipou ao Copom e reduziu a taxa de juros de 13 de suas principais linhas de crédito. E a Nossa Caixa cortou os juros de seis linhas. O Banco do Brasil também vai anunciar novas tabelas com juros menores, mas apenas após o anúncio oficial do Copom.

Os bancos públicos estão sendo orientados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a reforçar o mercado de crédito no país, afetado pela crise internacional. E, daqui para frente, o crédito no país receberá menos impulso da taxa básica de juros Selic. Diante do cenário inédito de juros reais na casa do 4,5% ao ano, de expectativas de inflação cada vez maior e de retomada do crescimento econômico, no Brasil e no mundo, o Copom deve fazer hoje sua última redução na Selic, ao menos pelos próximos 12 meses, segundo avaliações praticamente unânimes do mercado financeiro.

Além disso, o BC vai reduzir o ritmo do corte. O mercado prevê uma redução de meio ponto percentual - ou seja, metade do corte feito nas duas reuniões anteriores do Copom - para deixar claro que a hora é de cautela.

- É o momento de avaliar os impactos dos cortes já feitos. Eles vão estimular a atividade e o consumo, e podem trazer risco inflacionário - avalia o economista-chefe do banco Schahin, Sílvio Campos Neto.

O Copom começou a cortar a Selic - hoje em 9,25% ao ano - em janeiro passado. De lá para cá, já foram 4,5 pontos percentuais de redução, levando a taxa para o patamar inédito de um dígito. As decisões de política monetária, argumenta o BC, demoram cerca de nove meses para afetar plenamente a economia. Por isso, a partir do segundo semestre, o estímulo dado começará a ter efeito prático.

Ano eleitoral traz incertezas

Nas últimas semanas, o mercado vem elevando suas projeções de inflação para 2009 e 2010, revela a pesquisa Focus do BC. Para este ano, por exemplo, o IPCA está projetado a 4,53%, pouco acima da meta de inflação, de 4,5%. O sócio-diretor da Modal Asset Management, Alexandre Póvoa, diz ainda que o atual nível de juros reais (descontada a inflação) do Brasil, em torno de 4,5%, está abaixo do normal.

- Isso não tem problema agora, que o país cresce abaixo do seu potencial (cerca de 4,5% ao ano). Mas pode ser (um problema) a partir do próximo ano - disse Póvoa, referindo-se à possibilidade de a economia crescer mais do que sua capacidade produtiva, pressionando preços.

Pesam ainda, avaliam os especialistas, as eleições de 2010, que podem trazer incertezas sobre a condução da política monetária. Sobretudo ante o esforço do presidente do BC, Henrique Meirelles, para sair candidato ao governo de Goiás, o que levanta a especulação sobre quem - e com qual perfil - o substituiria.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a elevar ontem as apostas de corte de juros. Segundo ele, as medidas econômicas adotadas pelo governo permitem reduções na Selic:

- Acho que toda a política econômica feita pelo governo brasileiro está permitindo termos margem de manobra para fazer os cortes que estamos fazendo. Se vai ser 0,5, 1 ou 0,75 (ponto percentual), são as pessoas que estão com as tabelas que vão decidir. Certamente eles (diretores do BC) decidirão o melhor para o Brasil.

Brasil cai para 5ª posição em juro real

Lula negou que tenha pedido ao presidente do BC o corte de juros:

- Se tivesse que pedir, não pediria, determinaria. Não determinei, porque temos cultura que está dando certo. Embora não tenha nenhuma lei garantindo autonomia ao Banco Central, a relação entre nós permite que haja uma certa autonomia e nós colhemos bons resultados até agora.

A Caixa e a Nossa Caixa fizeram cortes nas linhas de crédito para empresas e pessoas físicas. No caso da Caixa, as taxas do crédito pessoal passaram de 4,91% para 4,04% ao mês. É o sétimo movimento de queda promovido pela instituição em 2009. A Nossa Caixa reduziu de 3,95% para 2,50% ao mês os juros da linha de antecipação do décimo terceiro salário.

Se for confirmada hoje a redução de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, o Brasil deverá passar a ocupar a quinta colocação no ranking de juros reais do mundo. Com isso, o país cederá duas posições: para Tailândia e Argentina. Após a redução em um ponto percentual da Selic na última reunião, para 9,25% ao ano, o Brasil passou a ocupar a terceira posição, com juros reais anuais de 4,9%. A conta, que considera a taxa básica de juros de cada país e desconta a projeção de inflação para os próximos 12 meses, foi feita pela UpTrend Consultoria Econômica.

COLABOROU Felipe Frisch