Título: Honduras expulsa diplomatas venezuelanos
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 22/07/2009, O Globo, p. 25

TEGUCIGALPA. O governo interino de Honduras, resistindo à crescente pressão internacional para deixar o poder, expulsou ontem todos os diplomatas venezuelanos de seu território, acusando o presidente Hugo Chávez de interferir nos assuntos internos do país depois do golpe de Estado de 28 de junho. Chávez, um dos maiores aliados do presidente deposto, Manuel Zelaya, já havia retirado seu embaixador de Tegucigalpa.

- Essa é uma decisão tomada devido às ameaças de uso da força, da intromissão em assuntos internos exclusivos de Honduras - disse a vice-chanceler interina, Martha Lorena Alvarado, acrescentando que os diplomatas teriam 72 horas para sair.

Zelaya diz já ver guerra civil em Honduras e antecipará volta

No entanto, o primeiro-secretário da representação diplomática da Venezuela, Ariel Vargas, negou as acusações e disse que os funcionários permanecerão no país.

- Não sairemos daqui - anunciou a uma TV hondurenha.

A ligação de Chávez com Zelaya - um empresário da área agrícola que despertou tensões no setor privado e no próprio partido ao aliar-se com o venezuelano - foi um dos argumentos usados para o golpe militar. Para os golpistas, liderados pelo agora presidente Roberto Micheletti, a tentativa de mudar a Constituição para viabilizar sua reeleição foi inspirada em Chávez.

Ontem, o mediador do conflito, o Nobel da Paz e presidente da Costa Rica, Oscar Arias, intensificou contatos telefônicos com membros da comunidade internacional num último esforço diplomático antes que se encerrasse o prazo pedido por ele para encontrar uma solução para a crise política, hoje. A União Europeia, que anteontem suspendeu ajuda ao país estimada em 65 milhões, ameaçou ampliar as sanções, seguindo os EUA e o Banco Mundial.

Exilado na Nicarágua, Zelaya disse ontem que já vê uma guerra civil em Honduras e que antecipará sua volta. Ele tentaria retornar a partir de hoje, apesar das ameaças de prisão e dos apelos de Arias para que espere até o fim da semana. Até agora, a maior parte dos protestos foi pacífica, mas seguidores de Zelaya ameaçam intensificá-los, e a comunidade internacional teme um banho de sangue.