Título: Lula pede cuidado com biografia de investigados
Autor: Damé, Luiza ; Franco,Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 23/07/2009, O País, p. 10

Na posse do procurador-geral da República, presidente volta a criticar a imprensa e faz alerta sobre Congresso

Luiza Damé e Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA. Na posse do novo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais uma vez, voltou suas baterias contra a imprensa. Ao recomendar que os procuradores não aceitem pressões, disse que a imprensa brasileira quer condenar antes da conclusão do processo. Ao mesmo tempo, no dia em que são divulgadas novas denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney, sugeriu que o Ministério Público se preocupe com a biografia dos investigados.

¿ Jamais farei um pedido pessoal a Vossa Excelência, jamais colocarei um alfinete para atrapalhar qualquer investigação neste país. A única coisa que peço é que uma instituição que tem o poder que tem o Ministério Público brasileiro, garantido pela Constituição, tem a obrigação de agir com a máxima seriedade, não pensando apenas na biografia de quem está fazendo a investigação, mas pensando, da mesma forma, na biografia de quem está sendo investigado, porque nós não temos o direito de cometer erros, condenar, porque no Brasil as pessoas são condenadas antes. No Brasil, dependendo da carga de manchetes da imprensa, a pessoa já está condenada.

Lula pede que procurador evite excessos Lula atribuiu à imprensa essa condenação antecipada: ¿ Corrupção aparece exatamente quando você combate, porque você tem duas facilidades: você pode engavetar processo, você pode aceitar pressão do Poder Legislativo, você pode aceitar pressão do Poder Executivo, você pode aceitar pressão da imprensa que, às vezes, quer condenar antes de o processo ser feito corretamente.

O presidente disse que o MP continuará a atuar livremente, mas pediu a Gurgel que evite excessos para que o Congresso não invista contra as atribuições dos procuradores.

¿ Da parte deste governo, você só irá encontrar mais flexibilidade na abertura das portas para o MP. Por favor, não jogue isso fora, porque um dia vai aparecer alguém que acha que vocês são demais e vai mandar mudanças para o Congresso.

Daqui a pouco, aparecerá alguém que se sinta perseguido por vocês e proponha mudanças.

E sabemos que a mudança nunca será para mais liberdade, será para mais castramento.

Lula voltou a criticar a espetacularização das investigações e disse que os membros do MP têm de seguir os preceitos constitucionais, usando a consciência para balizar seus atos.

¿ Não pode ter nada pior do que um procurador, um político, qualquer ser humano, procurar fazer da sua atividade profissional, que pesa muito sobre a liberdade das pessoas, um show de pirotecnia.

Também presente, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, disse que a imprensa não faz prejulgamentos por conta própria e que pode ser induzida a erro por autoridades.

¿ Na verdade, há um reclamo muito grande contra a impunidade.

Muitas vezes, isso leva a esse tipo de juízo definitivo, que não é apenas da imprensa.

Muitas vezes ele vem de algum agente público. É um delegado que precipita uma conclusão, um promotor, um juiz. A imprensa nunca age de forma isolada.