Título: Corte de juros fortalece caderneta
Autor: Rangel,Juliana ; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 23/07/2009, Economia, p. 23

BC reduz taxa básica para 8,75% ao ano e mercado prevê manutenção nos próximos meses

Juliana Rangel e Patrícia Duarte RIO e BRASÍLIA

Pela quinta vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu ontem reduzir a taxa básica de juros Selic, em meio ponto percentual, para 8,75% ao ano.

A decisão, unânime, veio acompanhada por uma clara sinalização de que o BC deverá interromper os cortes na Selic. Nas últimas três reuniões do Copom, a redução dos juros havia sido maior, de um ponto percentual.

Agora, com a taxa em seu novo piso histórico, o pequeno investidor ficou sem alternativas de aplicações em renda fixa, a não ser a poupança.

Cálculos do matemático José Dutra Sobrinho mostram que, com a nova Selic, os fundos DI (atrelados aos juros básicos) com taxas de administração maiores que 1% já perdem em rentabilidade para a caderneta. Levantamento feito pelo GLOBO nos seis maiores bancos de varejo do país não encontrou nenhum fundo DI com aplicação de até R$ 10 mil e taxa de administração inferior a 1%.

No levantamento foram considerados fundos de Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Santander Real, HSBC, Bradesco e Caixa. Alguns têm fundos para pequenos investidores com taxa de administração menor que 1%, mas apenas para funcionários ou clientes de alto padrão.

Poupança capta 50 vezes mais em julho l O Banco do Brasil informou, por meio da assessoria de imprensa, que ¿está revisando seu portfólio de fundos para reduzir as taxas de administração e o valor da aplicação inicial nos próximos dias¿.

O diretor de Produto de Investimentos do Itaú, Alexandre Zákia, contesta a informação de que fundos com taxas superiores a 1% perdem para a poupança. Segundo ele, a taxa de corte estaria em torno de 1,7%. Os cálculos de Dutra levam em conta uma rentabilidade de 100% da taxa CDI para os fundos DI. Zákia diz que, segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), a rentabilidade líquida média dos fundos DI é de 117,3% do CDI. Esse valor já tem descontada a taxa de administração, mas não o Imposto de Renda.

Mas o diretor do Itaú admite que as taxas de administração podem cair ainda mais. Segundo a Anbid, elas já recuaram de uma média de 1,82% anual para 1,49% nos últimos cinco anos.

¿ A tendência é a taxa de administração continuar caindo e, a partir de certo nível, que não está muito longe, se estabilizar porque há um limite, que é o custo de distribuição dos fundos ¿ prevê.

Caixa, HSBC, Santander e Bradesco não comentaram o assunto.

Com a queda dos juros básicos, tem crescido a captação da poupança. Segundo dados do BC, só este mês, até o dia 16, os depósitos superaram os resgates em R$ 4,287 bilhões. Trata-se um valor equivalente a quase 50 vezes a captação da poupança no mesmo período de junho (R$ 87 milhões).

A nova Selic definida pelo BC ontem deverá ficar inalterada a médio prazo, preveem especialistas.

Para analista, Selic deve subir em 2010

Comunicado da instituição deixou claro que os juros alcançados ontem são suficientes para incentivar o crescimento econômico sem acentuar a pressão sobre a inflação.

¿ O BC deixou claro que essa taxa de juros, neste momento, é neutra, porque o país cresce abaixo do seu potencial (cerca de 4,5% ao ano). A partir do segundo semestre de 2010, quando a economia estiver mais forte, a Selic deve voltar a subir ¿ avalia o economista-chefe do WestLB, Roberto Padovani.

A decisão, amplamente esperada pelo mercado, veio acompanhada por um comunicado em que o Copom comenta: ¿Levando em conta que a flexibilização da política monetária implementada desde janeiro tem efeitos defasados e cumulativos sobre a economia, o comitê avalia, neste momento, que esse patamar de taxa básica de juros é consistente com um cenário inflacionário benigno¿.

Para o economista sênior da Itaú Unibanco Asset Management, José Luciano Costa, os estímulos decorrentes da queda dos juros serão mais evidentes daqui para frente: ¿ Já há sinais bem consistentes de recuperação, como o varejo e as vendas de bens de consumo duráveis.

COLABOROU Felipe Frisch