Título: Sarney: todos contratavam parentes
Autor: Camarotti, Gerson; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 28/07/2009, O País, p. 3

Se houve crime para mim, houve para todo mundo", teria dito senador a aliados

BRASÍLIA. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), passa a última semana do recesso cuidando da mulher, dona Marly Sarney, que se recupera de uma cirurgia em São Paulo, na expectativa de que a crise arrefeça. Mas, a amigos e aliados políticos, deixou o recado que vem sendo repetido pelos peemedebistas: não renuncia de jeito nenhum e faz isso porque sua permanência no comando do Senado ajuda mais ao presidente Lula e à governabilidade do que a ele próprio.

Essa mensagem vem acompanhada da ameaça do PMDB de que, na pior das hipóteses, Sarney se licenciaria para acompanhar a recuperação da mulher, deixando o tucano Marconi Perillo (GO), 1º vice-presidente, na presidência da Casa.

Colaboradores de Sarney lembram que o Senado tem uma "pauta-bomba" contra o governo, e basta um dia no comando da Casa para o PSDB pôr projetos em votação, como a extensão do reajuste dado ao salário mínimo em 2006 a todos os aposentados, que está na pauta do Congresso (sessão conjunta da Câmara e do Senado). Por isso, dizem os sarneyzistas, o presidente Lula não tinha outra saída senão manter a defesa de Sarney, como fez ontem por intermédio do ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Para amigos que estiveram com ele no hospital, ontem, Sarney repetiu que não está em seus planos a palavra renúncia. Tentando passar tranquilidade, o presidente do Senado disse que não praticou crime em relação à contratação de parentes, pois não havia essa proibição, que só ocorreu no ano passado, depois que o Supremo Tribunal Federal reafirmou o fim do nepotismo. Disse mais: que a contratação de parentes era uma prática generalizada na Casa, feita por quase todos os senadores.

- Se houve crime para mim, houve para todo mundo - disse, segundo relatos.

Senador lembra funcionário fantasma de líder tucano

Sarney chegou a lembrar que é muito mais grave a situação do líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM). O tucano assumiu publicamente ter abrigado em seu gabinete um funcionário fantasma - que estudava na Espanha.

Apesar de o apoio a Sarney estar fragilizado, os sarneyzistas consideram que o quadro não mudou no recesso e que as críticas partem daqueles senadores que "sempre falam a mesma coisa", já contabilizados como contrários à sua permanência no cargo.

Nas conversas com amigos, Sarney voltou a desabafar que está sendo vítima de uma perseguição política por apoiar o governo do presidente Lula.

Além do caso Sarney, o comando do PMDB deve reagir na próxima semana às acusações de fisiologismo em sua relação com o governo Lula e no preenchimento de cargos. A ideia é mandar uma carta à militância, mas o caso do presidente do Senado não seria citado especificamente.

Internada desde domingo no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, Marly Sarney se recupera de uma cirurgia em que reconstituiu os ossos do ombro esquerdo, fraturado após uma queda. A cirurgia, comandada pelo médico Sérgio Checchia, terminou na madrugada de ontem e não foi necessária a colocação de uma prótese.

Dona Marly Sarney encontrava-se até ontem à noite na unidade crítica cardiológica do hospital e se recuperava bem, segundo boletim médico. O presidente do Senado, que chegou ao hospital de helicóptero no domingo, permaneceu ontem o dia todo ao lado da mulher, de acordo com o relato dos médicos. Ele não quis falar com os jornalistas.