Título: Para apoiar Ciro, PT impõe condições
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 28/07/2009, O País, p. 8

Partido exige que PSB paulista apoie Luiz Marinho e abandone base de Serra

SÃO PAULO. O PT decidiu cobrar compromissos da base aliada do governo federal para aceitar a candidatura do deputado federal Ciro Gomes (PSB) ao governo de São Paulo e sacrificar seus pré-candidatos, como quer o presidente Lula. PSB e PDT teriam que abandonar a base do governador José Serra (PSDB) no estado.

Além disso, o PT paulista quer o comando de toda a campanha no estado em 2010. Com Ciro identificado pelo 40 do PSB, o 13 do PT poderá perder votos até para o Senado, avaliam dirigentes dos dois partidos.

Os dirigentes dos dois partidos buscam uma forma de unir o 40 ao 13 e evitar um prejuízo eleitoral para o PT. Os petistas de São Paulo também querem o fim da oposição do PSB ao governo de Luiz Marinho em São Bernardo do Campo, berço de Lula. Também querem que cesse o apoio de PSB e PDT a Serra na Assembléia Legislativa.

- Um dos pontos básicos é que o PSB e o PDT terão que parar de apoiar Serra na Assembléia (hoje, a oposição a Serra tem 23 votos, contra 71 da situação). Não conseguimos montar uma CPI sequer, que depende de 32 votos, porque esses dois partidos não assinam nada contra Serra. Se PSB e PDT nos apoiarem, já que serão aliados contra o PSDB e a favor de Ciro com o PT, faremos realmente oposição e teremos uma aliança - disse uma líder petista.

- Outro ponto que vamos cobrar é com relação à nossa gestão municipal mais emblemática, que é a de Luiz Marinho, na própria cidade do presidente. Não podemos admitir que Willian Dib (ex-prefeito, do PSB) continue liderando a oposição a Marinho enquanto nós cedemos nosso palanque ao Ciro e ao PSB - afirmou outro dirigente petista.

O PT divulgou na sexta-feira uma nota, reafirmando que pretende construir um campo com a base para uma candidatura em São Paulo, de oposição ao PSDB, de modo a ajudar na eleição da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), como quer Lula. Mas estabeleceu condições para isso.

No PSB, líderes consideram que a aliança é vantajosa

- Nós estamos conversando com o PSB há 20 dias. A nota só reafirma isso. O que faremos agora são exigências. Se não, além de não garantir palanque para Dilma em São Paulo, onde o PSB e o PDT apoiam o Serra descaradamente, vamos deixar de eleger deputados e até senadores, por causa da legenda - disse outro dirigente.

Oficialmente, o PT paulista afirma apenas que quer construir o campo político e também o da unidade partidária. Segundo o presidente do PT, Edinho Silva, trata-se de "um processo". Nas cúpulas do PSB e do PDT, as afirmações são parecidas.

Porém, no PSB de Ciro alguns líderes já fazem até as contas dos possíveis lucros:

- Hoje, temos quatro federais por São Paulo e teremos sete. No estado, de cinco, passaremos para pelo menos oito. O PT, de 19 estaduais, cairá para 12. Por esse aspecto a candidatura de Ciro é boa. Por outro lado, Serra nos prometeu uma secretaria. Como faríamos oposição? - disse um deputado estadual do PSB.

Vice-líder de Serra na Assembléia, Jonas Donizetti afirmou que os deputados não querem "contaminar a boa relação administrativa com Serra" com questões eleitorais antecipadas.

- Serra tem sido muito correto conosco e ajudado nossas prefeituras. Não temos motivo para fazer oposição. Agora, o fato é que nosso partido não ouviu sua bancada. Queremos primeiro ser ouvidos - disse o vice-líder do governo.