Título: Crise ajuda contas externas
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 28/07/2009, Economia, p. 17

Déficit em transações correntes cai 58% no 1o- semestre com remessas menores

Com a crise afetando significativamente as remessas de lucros e dividendos de multinacionais instaladas no país, o déficit em transações correntes (trocas comerciais, de serviços e transferências unilaterais) do país recuou 58% no primeiro semestre deste ano, para US$ 7,07 bilhões. Entre janeiro e junho do ano passado, a conta corrente do país havia ficado negativa em US$ 16,87 bilhões. A remessa de lucros e dividendos por multinacionais, que no primeiro semestre de 2008 fora de US$ 18,99 bilhões, agora recuou para US$ 10,86 bilhões ¿ um tombo de 43%. Segundo o Banco Central (BC), em julho, até ontem, as remessas somavam US$ 1,114 bilhão.

¿ As empresas têm menos lucros e dividendos para enviar, porque a crise afetou a atividade econômica ¿ explicou o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Na avaliação do BC, o déficit de mais de US$ 7 bilhões na conta corrente do Brasil não preocupa porque está sendo financiado pelos investimentos estrangeiros diretos.

Foram US$ 12,68 bilhões no primeiro semestre, um número 24,1% inferior ao registrado em igual período do ano passado. Ainda assim, o volume de investimento estrangeiro direto é considerado bom diante de um cenário de crise internacional. Com o déficit nas transações correntes sendo coberto pelos investimentos diretos, isso significa que o país não precisa se endividar no exterior para fechar suas contas.

¿ O resultado do primeiro semestre é muito bom e, para o segundo semestre, deve ser melhor ainda. As remessas (de lucros e dividendos) não vão acelerar, e a balança comercial deve vir mais positiva ¿ afirmou Lopes.

Em junho, porém, o resultado da conta corrente veio pior do que o esperado. Foi um déficit de US$ 535 milhões, sendo que o BC esperava um resultado equilibrado.

Crescem gastos de turistas brasileiros

De novo, o resultado foi influenciado pelas remessas de lucros e dividendos. Mas, no mês de junho, essa cifra teve forte expansão, para US$ 3,028 bilhões, número inflado, segundo Lopes pelo pagamento de US$ 800 milhões em dividendos de ADRs (ações de empresas nacionais negociadas na Bolsa de Nova York).

Pelo lado comercial, o impacto foi positivo no primeiro semestre. A balança de exportações e importações fechou com superávit de US$ 13,997 bilhões de janeiro a junho. De negativo, foram registrados os pagamentos com juros (desembolso líquido de US$ 4,095 bilhões) e as viagens internacionais, com saldo líquido negativo de US$ 1,887 bilhão nos seis primeiros meses de 2009.

E a conta turismo continuou negativa este mês. Até ontem, o déficit era de US$ 493 milhões em julho. Com o dólar na casa de R$ 1,90, mais brasileiros viajam para o exterior. Em junho, os gastos de turistas brasileiros lá fora somaram US$ 987,2 milhões e, neste mês, US$ 813 milhões até ontem, indicando que o patamar pré-crise está muito perto de ser alcançado.

Em setembro passado, os desembolsos dos turistas brasileiros chegaram a US$ 1,126 bilhão.

Por outro lado, têm crescido as aplicações financeiras no Brasil. Os investimentos em ações, por exemplo, que no mês passado tinham registrado saldo negativo de US$ 65 milhões, neste mês já acumulam entradas líquidas de US$ 5,450 bilhões até ontem. Nesta cifra, estão cerca de US$ 2,4 bilhões decorrentes da abertura de capital da Visanet.

Nos títulos de renda fixa, o saldo está positivo em US$ 1,113 bilhão neste mês.

Deste modo, avaliam os especialistas, o balanço de pagamentos do país (que inclui as transações correntes, os investimentos diretos estrangeiros e as aplicações no mercado financeiro) não corre o risco de ficar negativo até o próximo ano.

Para o economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto, o saldo deve fechar esse ano positivo em US$ 20 bilhões, sobretudo com a entrada forte de recursos financeiros para ações e títulos, que até junho somavam US$ 13,997 bilhões.

¿ Deste modo, o dólar vai continuar lá embaixo (na casa do R$ 1,90) ¿ prevê Campos Neto.

O BC também informou ontem que o fluxo cambial ¿ entrada e saída de moedas estrangeiras no país ¿ ficou negativo em US$ 118 milhões entre os dias 1oe 23 deste mês, um número inferior ao déficit registrado até a semana anterior (US$ 330 milhões). O resultado foi fortemente influenciado pela conta comercial que, no período, ficou negativa em US$ 2,748 bilhões, com importações de US$ 9,804 bilhões e exportações de US$ 7,056 bilhões.

Essa conta está sendo afetada por um mecanismo criado pelo governo no ano passado, pelo qual exportadores podiam deixar no exterior, por até 12 meses, os dólares recebidos pelas vendas, sem fechar contratos de câmbio. Como esse prazo começou a vencer, esses agentes começaram a trazer de volta esses recursos, fechando contratos para honrar importações já realizadas.

Ou seja, na prática, importações feitas no passado estão tendo seus contratos fechados agora.

Já a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 653 milhões na quarta semana de julho, acumulando um saldo positivo de US$ 2,804 bilhões no mês. Entre os dias 1oe 26 de julho, o Brasil vendeu ao exterior US$ 11,512 bilhões em mercadorias, com desempenho médio diário ¿ US$ 639,6 milhões ¿ 28,1% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado. As importações somaram US$ 8,708 bilhões, com queda de 35% em relação à média diária de julho de 2008

COLABOROU Eduardo Rodrigues