Título: O risco de uma pizza gigante no Conselho
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 31/07/2009, O País, p. 8

Já são 11 representações, podendo chegar a 15, e faltaria até relator

Maria Lima e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. O Conselho de Ética do Senado volta a se reunir terçafeira, mas seus integrantes não sabem ainda que procedimento será adotado pelo presidente, Paulo Duque (PMDB-RJ), para dar seguimento aos 11 pedidos de investigação dos escândalos envolvendo o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Em meio à guerra de ações, o temor de alguns senadores é que Duque, devidamente orientado pelo comando do PMDB, junte todas as representações contra Sarney em uma só e arquive todos os pedidos de investigação, produzindo uma grande pizza.

Outra hipótese é que não haja relatores para analisar tantas representações.

Segunda-feira, as denúncias podem passar de 15.

O PMDB pretende pedir abertura de processos contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), por quebra de decoro na contratação de um funcionário fantasma, em represália às três representações contra Sarney de autoria do partido. O tucano, por sua vez, estuda outra ação, desta vez contra o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), alegando que ele quebrou o decoro ao chantagear o PSDB.

¿ Se mais de uma representação tiver o mesmo teor, essas podem ser juntadas numa só.

Mas são 11 pedidos de investigação envolvendo várias denúncias diferentes. A ideia deles (do grupo de Sarney) é tentar arquivar tudo ¿ afirma Renato Casagrande (PSB-ES). ¿ O problema é que a cada dia a situação de Sarney fica mais difícil.

Segundo as regras, quando uma representação é arquivada pelo presidente do Conselho, pode haver recurso ao plenário do colegiado, depois de publicada a decisão.

¿ No processo contra o Renan, ano passado, fizeram isso, juntaram assuntos semelhantes numa mesma representação.

Mas o momento é péssimo para articular qualquer coisa ¿ disse Wellington Salgado (PMDB-MG).

¿ Podem tentar juntar tudo numa só representação e arquivar tudo. Mas isso só vai aumentar a agonia do presidente Sarney ¿ disse Virgílio.

Ordem de representar contra Virgílio partiu de Sarney A ordem de representar contra Virgílio partiu do próprio Sarney. Segundo caciques do PMDB que conversaram com ele, em São Paulo, o senador mobilizou o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDBSP), para que o partido assine a representação. Sarney abandonou o tom conciliador e cobrou uma reação.

¿ Conversei hoje com ele (Sarney), e ele me disse que o partido tem que agir ¿ confirmou Renan à Agência Brasil.

¿ Sarney jamais admitiria renunciar.

Isso está fora de cogitação.

O senador está aceso, firmíssimo. Renúncia, licença, não resolve a vida de ninguém, nem do governo, nem do Senado, nem do Sarney. Só agrava.

O PMDB analisa apresentar até quatro ações contra o líder tucano. Além do fato de ter mantido o filho de um amigo na folha de pagamento do Senado, enquanto o jovem estudava no exterior por quase dois anos, o PMDB quer questionar o empréstimo que Virgílio teria recebido do ex-diretorgeral Agaciel Maia, e até denúncias de gastos excessivos do plano de saúde do Senado com seus familiares.

¿ O partido vai ver o que será representado ¿ disse Salgado, criticando o grande número de representações da oposição contra Sarney: ¿ Estão transformando as denúncias em cartão de bingo.

Na reunião do Conselho, terça-feira, o ato principal será a eleição do vice-presidente.

Paulo Duque se refugiou no interior do Rio e está sumido desde o início do recesso.