Título: Estado tenta impedir que os outros presos voltem
Autor:
Fonte: O Globo, 31/07/2009, Rio, p. 20

Justiça de Campo Grande determinou que dois traficantes acusados da morte de diretor de presídio sejam transferidos

Antônio Werneck

Dois dias depois de impedir o desembarque no Rio dos traficantes Isaías da Costa Rodrigues (o Isaías do Borel), Marco Antônio Pereira Firmino da Silva (o My Thor) e Ricardo Chaves de Castro Lima (Fu da Mineira), o governo do estado trava nova batalha: cancelar a decisão judicial que ordenou a transferência de outros dois bandidos. Aldair Marlon Duarte (o Aldair da Mangueira) e Ronaldo Pinto Lima da Silva (o Ronaldinho Tabajara), traficantes que cumprem pena no presídio federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, foram trazidos ontem para o Rio para depor na 2ª Vara Criminal de Bangu. Juntamente com Márcio Nepomuceno (o Marcinho VP), eles são acusados de tramar o assassinato de tenente-coronel José Roberto do Amaral Lourenço, diretor de Bangu 3, executado em outubro do ano passado na Avenida Brasil, em Deodoro.

A informação de que os dois devem ser transferidos para o Rio nos próximos dias chegou ontem ao conhecimento da Secretaria de Administração Penitenciária do estado, por meio do ofício confidencial 615/2009, da Diretoria do Sistema Penitenciário Federal (Dispf), do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), em Brasília. Endereçada ao secretário César Rubens Monteiro de Carvalho, o documento informa que a transferência foi determinada pela 5ª Vara Federal de Campo Grande. Aldair da Mangueira e Ronaldinho Tabajara estão em local não revelado no Rio, já tendo prestado depoimento na 2ª Vara Criminal de Bangu.

Em janeiro deste ano, o juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, da Vara Criminal de Bangu, decretou a prisão preventiva dos oito acusados de executar o diretor do presídio Bangu 3, entre eles Aldair da Mangueira, Ronaldinho Tabajara e Marcinho VP. Os três estavam presos quando tramaram o assassinato: Aldair em Bangu 2; Marcinho no presídio federal de Campo Grande; e Ronaldinho em Bangu 3. Em documento reservado, a Subsecretaria de Inteligência (SSI) da Secretaria de Segurança considerou a morte do diretor de Bangu 3 uma ¿tentativa dos criminosos de afrontarem o poder constituído do Rio¿ e revelou que os bandidos se comunicavam por meio de ¿pombos-correios¿ (mensageiros).

A descoberta de que traficantes estavam envolvidos diretamente no assassinato do diretor de Bangu 3 foi feita por acaso por agentes do Setor de Inteligência Policial da Polícia Federal do Rio. Os agentes estavam investigando uma quadrilha de traficantes de drogas e de armas, quando interceptaram uma ligação dos bandidos. Eles revelaram na conversa que estavam seguindo o carro do diretor. No dia do crime, falaram sobre o assassinato. Foi graças a dados enviados pela PF, em documentos assinados pelos delegados Bruno Simões e Fábio Galvão, que a Delegacia de Homicídios chegou aos acusados do assassinato.

O tenente-coronel José Roberto foi um dos responsáveis pelas modificações no sistema penitenciário que resultaram na divisão do presídio Bangu 3 em duas unidades. Também separou os principais chefes de umas das maiores facções criminosas do Rio. José Roberto era considerado linha-dura.