Título: Espanha sob novo ataque
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Fonte: O Globo, 31/07/2009, O Mundo, p. 38

Terroristas explodem carro e matam dois policiais, no segundo atentado em 36 horas

UM INVESTIGADOR observa os destroços do carro destruído quando uma bomba colocada sob ele foi detonada, matando dois policiais da Guarda Civil: Diego Salva Lezaún (à esquerda) e Carlos Enrique Sáenz de Tejada García

PALMA DE MAIORCA, Espanha

Dois policiais da Guarda Civil espanhola foram mortos ontem quando uma bomba colocada sob o carro em que estavam foi detonada às 13h30m, na cidade turística de Calvià, na ilha de Maiorca. Segundo as autoridades, o ataque tem as características do grupo terrorista basco ETA, e ocorreu 36 horas após outro atentado com carro-bomba na cidade de Burgos. Os dois ataques puseram o país em alerta, pois hoje o ETA, que o governo responsabilizou pelos atentados, completa 50 anos, e a população teme novas ações terroristas.

O número de vítimas poderia ter sido maior. Guardas civis descobriram outra bomba sob um segundo carro da força policial. O esquadrão antibombas tentou desarmá-la, mas não conseguiu, optando por realizar uma explosão controlada.

¿ Escutei uma explosão enorme ¿ disse um morador de uma casa a 90 metros do local do ataque, que deu como nome apenas Paco. ¿ Quando cheguei na janela, vi um monte de gente correndo e gritando, e muita fumaça. As pessoas estavam muito assustadas, corriam e gritavam, pensando que poderia haver outra bomba.

O carro da Guarda Civil fora deixado estacionado numa rua próxima a um quartel da força policial poucas horas antes do ataque. Carlos Enrique Sáenz de Tejada García, de 28 anos, e Diego Salva Lezaún, de 27, entraram no veículo que seria levado para uma oficina para uma revisão. Foi quando ocorreu a explosão, tão forte que parte do corpo de um deles ficou preso numa árvore. Coincidentemente, Sáenz é natural de Burgos, a cidade em que 66 pessoas ficaram feridas num ataque a um prédio de moradia de guardas civis e de suas famílias, quarta-feira.

Segundo o ministro do Interior da Espanha, Alfredo Pérez Rubalcaba, a hipótese mais provável é que terroristas tenham colocado uma bomba sob o veículo e que ela tenha sido detonada por controle remoto. Isso faria com que os assassinos estivessem ¿a poucos metros do quartel¿, segundo ele. O ministro, porém, não descarta a possibilidade de o grupo ter usado outro tipo de bomba, também já utilizado pelo ETA, que explode no momento em que o carro entra em movimento ou quando é ligado.

Governo e oposição se unem na condenação

O local onde ocorreu o ataque é uma rua sem casas, mas que fica a uma quadra da praia, perto de um hospital e dos Correios, além do quartel. Centenas de turistas costumam passar pelo local, e apenas por sorte não houve uma tragédia de grandes proporções com mais vítimas.

Como no atentado de quarta-feira, não houve aviso prévio sobre o ataque, como o ETA faz em ataques contra civis. Porém, o grupo também tem como prática não avisar sobre ações contra policiais. O governo e toda a classe política do país responsabilizaram o ETA pelos ataques.

¿ Os que já estão detidos apontam o caminho que espera os autores do atentado. Eles passarão a sua vida na prisão ¿ disse o presidente do governo espanhol, José Luis Zapatero, referindo-se às centenas de membros do ETA presos.

Zapatero e Mariano Rajoy, líder da principal legenda de oposição, o Partido Popular, chegarão juntos hoje a Maiorca para participar de uma cerimônia em homenagem aos policiais mortos.

O governo espanhol ordenou o isolamento da ilha por algumas horas. O aeroporto foi fechado, postos de controle foram instalados nas estradas. A intenção era impedir a fuga dos responsáveis. As medidas acabaram atrapalhando a vida de milhares de turistas. Porém, no final da tarde, as estradas e o aeroporto foram reabertos.

Alguns dos turistas que estão na ilha são integrantes da família real. As filhas do rei Juan Carlos, Elena e Cristina, e seis de seus netos estavam a 10km do local do ataque. O próprio rei e a rainha Sofia chegarão amanhã a Maiorca.

Em visita ao Brasil, o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, disse que a comunidade internacional está unida na luta contra o ETA. Ele ressaltou que os terroristas ¿não terão oportunidade de fugir da Justiça¿.

Ao lado de Moratinos, o ministro do Exterior, Celso Amorim, disse que o Brasil considerada os atentados ¿inaceitáveis¿:

¿ Lamentamos e condenamos os atentados terroristas ¿ afirmou Amorim.