Título: Tropa de choque foi reforçada para a guerra
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 02/08/2009, O País, p. 8

Estratégia é concentrar todo o debate no Conselho de Ética

BRASÍLIA. Para evitar erros ocorridos em 2007, durante os processos de cassação do então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a tropa de choque de José Sarney foi reforçada para o enfrentamento que haverá a partir desta semana.

Além dos senadores Wellington Salgado (PMDB-RJ), Almeida Lima (PMDB-SE) e Gilvam Borges (PMDB-AP), que fizeram uma defesa contundente de Renan, o grupo foi reforçado por Paulo Duque (PMDB-RJ), que ganhou a presidência do Conselho de Ética com a missão de arquivar tudo o que for possível contra Sarney.

A estratégia do grupo de Sarney, que mesmo no recesso funcionou numa espécie de gabinete da crise, é concentrar todo o debate no Conselho de Ética, onde os aliados têm maioria mais comprometida: 10 dos 15 votos do colegiado. Pelo que foi acertado, as representações que não forem arquivadas por Duque devem ser derrubadas pela tropa de choque.

Os quatro senadores do PMDB que fazem tudo por Sarney ganharam, na época dos processos contra Renan, os apelidos de Cabelo (Wellington), Microfone (Almeida), Sandália (Gilvam) e Careca (Duque), por suas características físicas e eloquência verbal. Diferentemente do que ocorreu há dois anos, quando alguns integrantes do Conselho demonstraram constrangimento com as pressões e, por isso, foi aberto processo de cassação contra Renan, desta vez, todos os nomes do colegiado foram escalados depois de uma análise detalhada.

¿Representações viraram cartela de bingo¿ O critério foi o de evitar comportamentos como o do então senador Sibá Machado (PT-AC), que renunciou ao cargo de presidente do órgão depois de não suportar as pressões para barrar as investigações.

¿ Esse grupo só foi criado porque existe uma ação coordenada para derrubar politicamente o atual comando do Senado.

Essas representações no Conselho de Ética viraram cartela de bingo em festa de quermesse.

É uma desmoralização o número de representações ¿ disse Wellington Salgado.

Além dos peemedebistas, senadores dos outros partidos aliados foram cuidadosamente escolhidos para o Conselho. Entre eles o líder do PTB, Gim Argello (DF), apelidado de ¿aprendiz de feiticeiro de Renan¿. Também foram escalados dois fiéis governistas: Inácio Arruda (PCdoBCE), João Pedro (PT-AM).

As duas vagas abertas no Conselho com as renúncias dos senadores Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e João Ribeiro (PR-TO) devem ser preenchidas por outros dois petistas fiéis ao Planalto: Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC), líder do governo no Congresso. No PDT foi escalado João Durval (BA), cujo filho, o prefeito de Salvador, João Henrique, é do PMDB.

(Gerson Camarotti)