Título: Fim do recesso sobe pressão e deixa Sarney mais frágil
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 02/08/2009, O País, p. 8

Contabilidade feita pela cúpula do PMDB mostra que presidente do Senado só teria 44 dos 81 votos em plenário num processo de cassação

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. O sinal amarelo acendeu no grupo político do senador José Sarney (PMDB-AP), e o cenário após o fim do recesso é de imprevisibilidade. Análise realista feita por caciques peemedebistas indica que Sarney volta do recesso parlamentar numa situação mais frágil do que há duas semanas, com o agravamento da crise no Senado. Numa contabilidade conservadora feita por aliados, o apoio ao presidente do Senado, num eventual processo de cassação, caiu de 54 para apenas 44 votos em plenário.

Ou seja, a pressão das últimas semanas teria reduzido em dez votos a margem de Sarney.

Esse placar é considerado de risco até pelos parlamentares mais próximos de Sarney, já que são necessários 41 votos no plenário para barrar a cassação de um mandato de senador. Por essas contas, 37 votos seriam a favor da cassação, ou abstenções.

Mas a estratégia definida pela tropa de choque de Sarney é partir para o enfrentamento nas próximas quatro semanas, período em que dificilmente o processo chegará ao plenário. Uma possível renúncia só seria analisada ao fim desse período, se a situação não for controlada.

¿Temos votos em todos os partidos, inclusive no PSDB¿ De um lado, o grupo tenta recuperar apoio de partidos aliados, principalmente do PT, além de renovar gestos públicos de solidariedade do Planalto e do presidente Lula. Numa outra frente, a determinação é ir para o ¿tudo ou nada¿ com representações contra tucanos e senadores de outros partidos, embolando a agenda do Conselho de Ética.

Hoje, há o reconhecimento de que a proximidade das eleições, associada ao forte desgaste da imagem do Senado, contribui para a rápida desidratação do apoio a Sarney.

¿ Não temos o voto de todos os peemedebistas. (Pedro) Simon e Jarbas (Vasconcelos) já se manifestaram contra Sarney.

Mas temos votos em todos os partidos, inclusive no PSDB ¿ disse Renan Calheiros, demonstrando disposição para enfrentar a guerra parlamentar.

Além das posições contrárias assumidas por Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE), o PMDB admite baixas importantes nos demais partidos da base, principalmente no PT. Hoje, o grupo de Sarney considera seguro o voto de só quatro dos 12 petistas.

Na contabilidade também há baixas no PDT e no PSB.

Em compensação, a matemática do Senado indica que Sarney contaria com votos no DEM e no PSDB. Na oposição, o único voto assumido a favor de Sarney é o de Papaléo Paes (PSDB-AP).

Nos bastidores, alguns tucanos e demistas renovaram o apoio a Sarney semana passada.

Os aliados de Sarney garantem: apesar da pressão familiar para que ele se afaste do cargo, o senador está disposto a continuar.

Para isso precisa de retaguarda.

E já avisou que gostaria de uma conversa com o presidente Lula nos próximos dias.

Para a oposição, resistir só prejudica a imagem do Senado.

¿ Se esse impasse for a plenário, haverá mais raiva e frustração.

Mas uma coisa é certa: esse placar vai evoluir muito. O PT está recuando cada vez mais do apoio a Sarney.

Se essa crise se instala de forma definitiva, Sarney vai presidir o quê? Está na hora de o PMDB procurar uma saída sem grande desmoralização ao presidente do Senado ¿ adverte o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).