Título: Lula: quem critica Bolsa Família é imbecil
Autor: Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 01/08/2009, O País, p. 8

Aumento de 9,67% nos valores dos benefícios, a partir de setembro, gerará despesa extra de R$406 milhões este ano

BELO HORIZONTE e BRASÍLIA. Em visita à capital mineira no dia em que foi anunciado o percentual do reajuste dos benefícios do Bolsa Família, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não falou sobre o aumento, dado em ano pré-eleitoral. Mas guardou parte de seu discurso para atacar quem critica o programa e o classifica de assistencialista:

- Ainda tem gente que critica o Bolsa Família. Eu acho normal, atingi uma idade em que não tenho mais o direito de me ofender com essas coisas. Alguns dizem que é uma esmola, assistencialismo, demagogia e vai por aí. Tem gente tão imbecil, tão ignorante que ainda fala que o Bolsa Família é para deixar as pessoas preguiçosas, porque quem recebe não quer mais trabalhar.

O presidente argumentou que, além de permitir que as pessoas em situação de pobreza se alimentem, o programa movimenta a economia, pois estimula o consumo. E disse que os críticos veem a pobreza com preconceito:

- As pessoas que pensam que o Bolsa Família é isso são as mesmas que acham que o cara mora num barraco da favela porque quer, que o povo é pobre porque é vagabundo, não quer trabalhar e estudar. Essa forma simplista de ver as coisas não permite sequer que esse ignorante se lembre que o país é dividido entre as pessoas que tiveram oportunidade e as que não tiveram oportunidade - afirmou.

Depois de inaugurações e promessas também no Rio, Lula participou, em Belo Horizonte, da formatura de 457 alunos do Plano Setorial de Qualificação e Inserção Profissional do Bolsa Família (Planseq), que dá cursos para beneficiados do programa trabalharem na construção civil. No início da tarde, o presidente faltou à entrega de apartamentos populares na Vila São José, obra do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo assessores, o mau tempo impediu que a aeronave do presidente decolasse no Rio.

Patrus: "Nunca pedi reajuste sem que fosse atendido"

Lula estava acompanhado dos ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Carlos Lupi (Trabalho), Luiz Carlos Barretto (Turismo) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social). Em discurso, os ministros também não citaram o polêmico reajuste, apenas de forma velada:

- Nunca entrei no gabinete do presidente para pedir um ajuste nos benefícios sem que fosse atendido - afirmou Patrus.

O aumento de 9,67% nos benefícios do Bolsa Família, anunciado ontem pelo governo, gerará despesa de R$406 milhões no orçamento deste ano. Decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicado no Diário Oficial da União aumentou de R$62 para R$68 o benefício básico do programa, pago a famílias com renda de até R$70 por pessoa. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social, o valor médio por família subirá de R$86 para R$95. As mudanças começam a valer no início de setembro.

Valor máximo do benefício subiu de R$182 para R$200

Com as mudanças, o valor máximo do Bolsa Família passou de R$182 para R$200, um aumento de 9,89%. Segundo o ministério, o cálculo do reajuste somou 4% de ganho real e 6% de inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), feito pelo IBGE. Em comunicado, o ministro Patrus Ananias disse que o aumento protege o poder de compra dos mais pobres e mantém aquecido o mercado interno, ajudando a atenuar os efeitos da crise.

O decreto também elevou a renda máxima das famílias que podem participar do programa. O valor mensal, que para o governo caracteriza a situação de pobreza, passou de R$137 para R$140 por pessoa. Até abril, o teto para entrar no Bolsa Família era de R$120 por pessoa. Já a faixa classificada como de extrema pobreza passou de R$69 para R$70 por pessoa. O ministério informou que essas mudanças não alteram a meta de ampliação do programa, que prevê a entrada de um milhão de famílias até outubro, chegando a 12,9 milhões no início de 2010.

Além de aumentar o benefício básico, o governo elevou os valores variáveis, que são pagos de acordo com o número de crianças e adolescentes de cada família. O benefício por criança aumentou de R$20 para R$22, e o por adolescente, de R$30 para R$33. Esses benefícios são limitados a três crianças e a dois adolescentes por família, com a comprovação de frequência escolar de 85% para alunos de 6 a 15 anos e de 75% para adolescentes de 16 e 17 anos, além de vacinação infantil e acompanhamento pré-natal.