Título: Melhor que o esperado
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 01/08/2009, Economia, p. 31

PIB americano recua 1% no 2º trimestre, menos que o previsto, graças a pacote de estímulo

Os primeiros efeitos do pacote de estímulo econômico de US$787 bilhões do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ajudaram a reduzir a queda na atividade econômica do país no segundo trimestre. O Produto Interno Bruto dos EUA (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) caiu num ritmo anual de 1% no segundo trimestre, frente aos três primeiros meses do ano, resultado melhor que a queda de 6,4% registrada entre janeiro e março. E acima da expectativa do mercado, que previa recuo de 1,5%.

- O PIB mostrou que, nos últimos meses, a economia avançou bem melhor do que pensávamos. E como muitos economistas vão dizer, parte desse progresso é diretamente relacionada ao plano de recuperação. Este e outros difíceis, mas importantes, passos tomados nos últimos seis meses nos ajudaram a pôr um freio na recessão - disse Obama.

Os gastos de governo federal, estados e municípios puxaram a economia no segundo trimestre, especialmente os do governo central, que cresceram 10,9% - as despesas com Defesa cresceram 13,3% e os gastos em infraestrutura e estímulos fiscais, 6%. Esses gastos responderam por 20% da expansão do PIB. Ajudaram também a estabilização das vendas de imóveis novos e a recuperação do sistema financeiro. A desaceleração no comércio foi menor. As exportações recuaram 7% e as importações, 15,1%, contra quedas de 29,9% e 36,4%, respectivamente, no primeiro trimestre.

Nova queda do consumo preocupa

Já o consumo das famílias, que nos EUA equivale a 70% do PIB, caiu 1,2%, depois de subir 0,6% no primeiro trimestre. Isso, para economistas, mostra que, ainda que o pior da crise tenha passado, a recuperação deve ser lenta e arrastar-se por este ano e 2010.

- O emprego é geralmente o último indicador a reagir na saída de uma recessão. Somente agora o pacote de recuperação começa a fazer efeito, então teremos de conviver com índices de desemprego ao redor de 10% até 2010 - disse o professor Frederick Joutz, diretor do Programa de Pesquisas do Departamento de Economia da Universidade George Washington.

Outro fator negativo foi a revisão do PIB de 2008, cuja expansão passou de 1,1% para apenas 0,4%, a menor desde 1991. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a recuperação americana será gradual e que o governo deve se preparar para injetar mais dinheiro na economia. O FMI estima que os EUA terão retração de 2,6% este ano e expansão de 0,8% em 2010.

A crise fez os EUA perderem 6,5 milhões de empregos desde dezembro de 2007 e muitos economistas acreditam que o mercado de trabalho não voltará aos patamares anteriores tão cedo. Para Anthony Yezer, da Universidade George Washington, a economia precisa crescer acima de 2% ao ano para reduzir o desemprego, hoje em 9,5%. Isso também aflige a zona do euro: a taxa de desemprego na região atingiu 9,4% em junho, o maior patamar em dez anos.

Na Bolsa de Nova York, a reação ao PIB americano não foi muito calorosa: o Dow Jones subiu 0,19%. Mas teve seu melhor julho em 20 anos, com valorização de 8,6%, a maior desde os 9% de 1989.

Economistas: sinal positivo para o Brasil

Na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), o PIB americano também não trouxe euforia, mas permitiu sua volta à melhor pontuação desde antes da crise. O Ibovespa, seu principal índice, fechou em alta de 0,53%, aos 54.765 pontos - o maior nível desde 1º de setembro, 15 dias antes da quebra do banco Lehman Brothers. E a Bolsa teve o seu melhor julho desde 1998, com alta de 6,41%.

Para a sócia-gestora de renda variável da Oren Investimentos, Daniella Marques, o investidor brasileiro vai aguardar sinais mais claros sobre a recuperação dos preços das matérias-primas, que têm peso significativo na Bovespa. O dólar recuou 0,48%, a R$1,865, a menor cotação desde 26 de setembro (R$1,851).

Para o Brasil, a redução do ritmo de contração do PIB americano é um bom sinal, dizem analistas. Isso porque a tendência é que, com investidores mais confiantes, aumente o fluxo de recursos estrangeiros para o país. Mas a queda das importações americanas pode afetar as empresas brasileiras.

- No atual cenário, o Brasil é um destino muito atraente. É uma economia grande, com previsão de forte crescimento no próximo ano - disse o estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani.