Título: Recuperação aditivada
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 03/08/2009, Economia, p. 13

Com IPI menor, produção cresce 20%, fábricas contratam e cadeia produtiva sente efeitos

Adecisão do governo de reduzir o IPI para quatro setores da economia já surte efeito sobre a cadeia produtiva de ao menos três deles - seja pela volta do crescimento da produção, pelo aumento nas vendas ou por uma nova leva de contratações. Na linha branca, a produção saltou 20% tanto em maio quanto em junho, em relação a iguais meses de 2008. Alguns fabricantes de acessórios para a construção registraram recorde de vendas em junho, após leve recuperação em maio. E as montadoras, depois de baterem números históricos de vendas em junho, já preveem novos recordes para o ano.

Para atender à alta na demanda por seus produtos, os três segmentos voltaram a contratar, contribuindo para o avanço do saldo positivo de abertura de vagas na indústria de modo geral em julho. Segundo estimativas do economista Fábio Romão, da LCA Consultores, foram criadas 17.300 vagas na indústria em julho, pouco abaixo da média da década para o período, de 18.500, e bem acima do registrado em junho - apenas 2.800 vagas. Os dados oficiais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho deverão ser divulgados na próxima semana.

Na linha branca, em maio, enquanto a produção cresceu 20%, segundo dados da Eletros (associação dos fabricantes do setor), a atividade industrial nacional teve contração de 11,3%, de acordo com o IBGE. Os dados nacionais para junho serão divulgados hoje. Desde 17 de abril, máquinas de lavar, geladeiras, fogões e tanquinhos tiveram o IPI reduzido até zero.

A Whirlpool, fabricante das marcas Consul e Brastemp, sentiu os efeitos da medida. De acordo com o diretor de Relações Institucionais, Armando Ennes do Valle, a empresa teve recorde de produção em maio e junho. Desde então, contratou 1.130 pessoas nas três fábricas e refaz os planos para 2009.

- A redução do IPI chegou no momento em que o setor avaliava fazer demissões. Em março, um mês antes, acreditávamos que, se repetíssemos o desempenho de 2008, já seria bom demais. Hoje, acreditamos poder crescer entre 4% e 6% no ano.

Produção de aço volta a crescer

Fabiana Ribeiro, de 28 anos, é uma das recém-contratadas da unidade de Rio Claro (SP) da Whirlpool, onde foram admitidas 710 pessoas em caráter temporário. A expectativa é que 300 sejam efetivadas.

- Meu contrato acaba no próximo dia 11 e já fui avisada que serei efetivada - comemora.

O setor automotivo também voltou a contratar. Desde março, pouco mais de três meses após o início de vigência da alíquota reduzida do IPI para veículos novos, a Fiat admitiu cerca de mil pessoas, elevando para 15 mil o número total de funcionários no país. A francesa Renault já convocou de volta os mil empregados que estavam de licença remunerada desde janeiro e, há dez dias, contratou mais 60 para a fabricação de um novo modelo de sua associada, a japonesa Nissan.

- A redução do IPI foi a principal medida de impacto para a recuperação do setor. Mas a redução dos juros e a retomada da oferta de crédito também foram fundamentais - avalia Cledorvino Belini, presidente da Fiat na América Latina.

A fabricante de amortecedores e componentes eletrônicos Magneti Marelli viu seu faturamento cair 70% em dezembro em relação a setembro, mês em que a crise internacional se agravou. Três meses depois, a empresa havia recuperado as perdas. Em junho, bateu recorde de vendas domésticas.

- O mercado automotivo brasileiro foi o primeiro a se recuperar no mundo. Mas não vejo sinais de recuperação das exportações - afirma Virgílio Cerutti, presidente do grupo.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), são justamente as vendas externas que têm impedido a recuperação da produção. Esta caiu 14% nos primeiros seis meses do ano, em relação a mesmo período de 2008. Já as vendas internas de veículos leves cresceram 4%, novo recorde para o período. A previsão é que o setor cresça 6% nas vendas a clientes brasileiros em 2009, atingindo novo marco histórico.

A recuperação da linha branca e do setor automotivo também está ajudando na retomada da siderurgia. Embora ainda aquém dos níveis de 2008, a produção mensal de aço tem crescido desde fevereiro, após sucessivos recuos de outubro a janeiro. Maior produtora de aço plano (usado em ambas indústrias) do país, a Usiminas religa este mês dois dos três altos-fornos que estavam parados - um desde dezembro e o outro, desde janeiro. Apesar de cautelosa quanto à demanda, a empresa contratará 150 pessoas para a unidade de Cubatão (SP) no semestre.

Para o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, a tendência é que a indústria - responsável pelo maior número de fechamento de vagas no Brasil no primeiro semestre - retome o ritmo das admissões.

- A política anticíclica foi muito bem-vinda porque mitigou a queda (de produção e no mercado de trabalho) no pior momento - diz Romão, lembrando que serviços e construção civil devem permanecer como motores das contratações por um tempo.

Beneficiada com a redução de IPI para materiais de construção a partir de abril, a fabricante de acessórios - como caixa de descarga e assentos sanitários - Astra teve, em junho, o melhor resultado mensal nos 52 anos da empresa. Segundo o diretor do grupo, Manoel Fernandes, isso possibilitou contratar 200 pessoas no primeiro semestre. Outras cem devem ser admitidas até o fim do ano.

Já a fabricante de cimento (um dos mais de 30 itens da construção com IPI reduzido) Cauê, da Camargo Corrêa, quer dobrar a força de trabalho na fábrica de Apiaí (SP), que será ampliada este semestre. O diretor comercial, André Schaeffer, afirma que ano passado a empresa não conseguiu atender a demanda crescente, pois operava no limite da capacidade.