Título: Economistas preveem PIB menor
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 07/04/2009, Economia, p. 17

CONJUNTURA

Pesquisa do Banco Central mostra que analistas do mercado acreditam que Produto Interno Bruto vai cair 0,19% este ano. Queda na produção industrial é apontada como principal motivo da avaliação

O pessimismo tomou conta de vez do mercado financeiro em relação ao crescimento da economia neste ano. Pesquisa do Banco Central (BC) com cerca de 100 analistas mostrou estimativa de queda de 0,19% para o Produto Interno Bruto (PIB), o primeiro índice negativo do levantamento. Há um mês, o consenso era de expansão de 1,2%. O que mais está contribuindo para uma projeção tão ruim ¿ o Ministério da Fazenda ainda fala em incremento de 2% e o BC, de 1,2% ¿ é a produção industrial. Até duas semanas atrás, os especialistas estavam convencidos de que o pior impacto da crise internacional sobre a indústria havia sido em dezembro de 2008. Mas o tombo registrado nos dois primeiros meses de 2009, de 17%, minou qualquer esperança. Tanto que, para o acumulado do ano, a previsão de queda para a produção avançou de 0,04%, há quatro semanas, para 3,06%.

Segundo o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero, o que se vê atualmente na indústria é um quadro muito mais grave do que o registrado em outras crises. Em períodos de desaceleração, era comum a produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) e de bens de consumo diminuir. Mas o chamado setor intermediário, que produz insumos para os demais segmentos, acabava se mantendo ativo, pois escoava o excedente de produção para o exterior, mesmo que a preços de banana. Agora, os mercados interno e externo estão retraídos. Não foi à toa que as empresas siderúrgicas desligaram quase a metade de seus altos-fornos, por falta de perspectiva de vendas.

Show da recessão A indústria como um todo, acrescentou Montero, foi pega com estoques elevadíssimos. Na euforia do crescimento verificado até setembro, superior a 5%, o grosso das companhias aumentou substancialmente o volume de estoques, acreditando que as vendas se manteriam aquecidas por um bom período. Esse movimento era facilitado pela fartura de crédito, que abarrotava o caixa das empresas de capital de giro. Depois da quebra do banco americano Lehman Brothers, simplesmente o consumo desabou e o crédito desapareceu. A produção foi interrompida e, para fazer caixa, houve desova de estoques.

O problema é que nem todos os setores, como o automobilístico, beneficiado pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), estão conseguindo esvaziar os galpões. Assim, mantêm as máquinas desligadas e estão demitindo. ¿O pior que pode acontecer é esse quadro se estender por um período mais longo, pois a desconfiança será geral. As empresas não retomarão investimentos, o desemprego vai aumentar e, com a redução da renda, as famílias cortarão o consumo¿, frisou Montero.

Para o economista Affonso Celso Pastore, o que se pode dizer é que a economia brasileira está em recessão. Em texto enviado a investidores, ele ressalta que a paralisia na produção industrial não decorre mais apenas do ajuste de estoques. Mas da retração da demanda externa ¿ os países potenciais compradores dos produtos brasileiros estão no fundo do poço ¿, da escassez de fontes de financiamento internacionais e da contração do crédito doméstico. Por isso, aposta Pastore, o BC terá um amplo espaço para cortar a taxa básica de juros. ¿A recessão comandará a política monetária¿, escreveu. O consenso é de que a Selic feche o ano em 9,25% ante os atuais 11,25%.

No entender de Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora, a redução dos juros será facilitada pela queda da inflação. Os analistas reduziram pela quinta vez seguida a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, agora para 4,26%. Para 2010, a projeção ficou em 4,46%. Foi a primeira vez que o mercado como admitiu taxa inferior ao centro da meta, de 4,5%, perseguido pelo BC.