Título: Tropa de choque de Sarney e Renan foi para a guerra disposta a tudo
Autor: Camarotti, Gerson; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 04/08/2009, O País, p. 4

Estratégia é resistir para manter poder na Casa, mas grupo depende do PT

BRASÍLIA. Numa mudança de comportamento estrategicamente calculada e discutida nas últimas horas que antecederam o fim do recesso parlamentar, o grupo político do presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), partiu para o ataque como último recurso para sair das cordas e tentar manter o poder na Casa. Mas essa tática só terá efeito se o presidente Lula conseguir segurar o apoio da bancada de senadores do PT. Caso contrário, os peemedebistas reconhecem que a situação ficará muito difícil de sustentar.

Nessas conversas com aliados, Sarney reconheceu que a tentativa de entendimento com a oposição não dera resultado.

Concluíram, então, que o senador não poderia mais ficar acuado. E a ordem é: se cair, cair atirando.

¿ Estamos no centro de um furacão, e todos os senadores estão nele. Ou o furacão vai sumir, ou vai pegar quem não estiver no centro dele ¿ advertiu Wellington Salgado (PMDB-MG).

¿ A saída de Sarney não é solução para o Senado. Isso não existe ¿ disse o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), antes de ir ao ataque no plenário.

Mas a renúncia passará a ser analisada caso o grupo conclua que não tem mais votos suficientes para barrar um processo de cassação no Senado. É aí que a bancada de 12 senadores do PT é considerada fundamental.

Embora Lula tenha dito que não mais atuará pessoalmente junto à bancada petista, durante todo o dia de ontem houve mobilização de setores do Planalto e do comando do PT para tentar afinar o discurso dos senadores. A tendência é que, na reunião de hoje, a bancada mantenha a posição de pedir a licença do presidente do Senado.

Oito dos 12 votos petistas apoiam essa tese.

Estava previsto para ontem um jantar entre senadores do PT e do PMDB, convocado pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio. Foram convidados os líderes do PT, Aloizio Mercadante (SP); do PMDB, Renan Calheiros (AL); do PTB, Gim Argello (DF); e a líder do governo no Congresso, Ideli Salvati ( PTSC ) . A o mesmo tempo, na cúpula do PT e no Planalto, há preocupação de não expor mais o partido.

Mercadante confirmou reunião da bancada, hoje, com o presidente do P T, Ricardo Berzoini (SP).

Mesmo assim, os senadores Flávio Arns (PT-SC) e Eduardo Suplicy (PTSP) defenderam o afastamento de Sarney em plenário.

¿ A bancada do partido havia decidido pelo afastamento do presidente Sarney, mas há uma tentativa repetida de jogar a bancada do Senado contra a opinião pública, dizendo que ela é dúbia. Não existe essa palavra: enquadramento ¿ disse Arns.

¿ Seria positivo o presidente Sarney se afastar por um período que ele considerar adequado para realizar sua defesa ¿ disse Suplicy.

Os petistas insistirão no afastamento temporário, mas não falarão em renúncia. Na bancada, estão fechados com o Planalto Delcídio Amaral (MS), João Pedro (AM), Serys Slhessarenko (MT) e Ideli. Ao responder à pergunta sobre a crise, Mercadante afirmou: ¿ O momento é de construir uma agenda positiva para o país.

A estratégia do PMDB foi confirmada na noite de domingo, quando Sarney recebeu em casa o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que será o responsável por sua defesa no Conselho de Ética. Sarney ficou otimista com o que ouviu.

¿ Do ponto de vista jurídico, a situação do senador Sarney é tranquila. As representações contra ele são tecnicamente frágeis ¿ disse o advogado.

Depois de passar boa parte do dia em seu gabinete, de onde assistiu ao embate no plenário, Sarney saiu à noite reafirmando que estava ¿muito tranquilo¿.

Mas integrantes da Executiva do PMDB já admitem um desgaste irreversível.

Mas Michel Temer (SP), presidente da Câmara e presidente licenciado do PMDB, tenta minimizar a crise .

Preocupou-se em justificar nota da legenda que prega o afastamento daqueles que estão insatisfeitos, dizendo que não é dirigida a Pedro Simon (RS): ¿ Não é uma nota oficial, é uma carta endereçada a uma revista. Não se dirige a situações presentes, com o Senado, mas ao futuro ¿ disse Temer: ¿ Não tem nada contra o Simon. Ele é uma legenda do partido. O objetivo foi dar as razões pelas quais o PMDB tem apoiado governos

COLABOROU: Isabel Braga