Título: Com sinais de reação global, Bolsa sobe 2,25% e dólar cai para R$ 1,835
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 04/08/2009, Economia, p. 20

Bovespa atinge maior pontuação em um ano e NY sobe 1,2%. Petróleo ganha 3%

RIO, BRASÍLIA e NOVA YORK. Uma enxurrada de dados positivos sobre a economia global ¿ vindos de Ásia, Europa e Estados Unidos ¿ colocou abaixo as superstições sobre agosto, considerado um período de mau agouro. No primeiro pregão do mês, investidores puseram em segundo plano o fantasma da recessão e deram espaço a expectativas otimistas sobre uma recuperação econômica mais rápida do que a imaginada.

No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), subiu 2,25%, para 55.997 pontos, o maior patamar desde 28 de agosto do ano passado. O dólar caiu 1,61%, para R$ 1,835.

Foi a menor cotação desde 25 de setembro de 2008.

Em Nova York, depois de registrarem o melhor julho em 20 anos, os mercados abriram o mês em alta. O índice S&P 500 fechou acima de mil pontos pela primeira vez desde novembro, com alta de 1,53%. O Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, avançou 1,2%. Já a bolsa eletrônica Nasdaq teve alta de 1,52%, ficando acima dos dois mil pontos pela primeira vez também desde novembro.

A notícia mais positiva veio da China. O CSLA Índice de Gerentes de Compras do país, uma das medidas da atividade da indústria, subiu de 51,8 para 52,8 pontos em julho. Foi o quarto mês consecutivo com leitura acima de 50 pontos, que denota expansão. A Bolsa de Xangai fechou em alta de 1,48%, levando sua valorização no ano a 90%.

Além da China, recuperação industrial em EUA e Europa Na zona do euro, houve aumento da produção industrial em Alemanha, França e Espanha, o que levou o Índice de Gerentes de Compra do Instituto Markit a subir de 42,6 para 46,3 pontos no mês passado. É o maior patamar em 11 meses.

Nos Estados Unidos, o mesmo indicador passou de 44,8 para 48,9 pontos, com a alta de novos pedidos. Espera-se que mês que vem a leitura fique acima de 50, o que indica expansão. Além disso, os gastos com construção subiram 0,3% em junho, contra projeção de queda de 0,5%.

Esses dados fizeram as commodities dispararem ontem no mercado internacional. A cotação do petróleo do tipo leve americano, para entrega em setembro, subiu 3%, para US$ 71,58. Em Londres, o barril do tipo Brent subiu 2,6%, para US$ 73,55. O ouro subiu 0,3%, para US$ 966,90 a onça-troy (3,10g), e a prata, 2,2%, para US$ 14,252 a onça. Já o cobre avançou 4,4%, para US$ 2,7385 a libra e acumula alta de 94% no ano.

¿ Muito embora ainda possamos ter algum refluxo lá na frente, temos evidências de que o pior já passou e que as economias começam a se re-cuperar de fato. Isso agora ficou muito claro. Estamos em um novo momento ¿ disse o economista-chefe da Ágora Corretora, Álvaro Bandeira.

O desempenho das commodities também está ligado, segundo analistas, ao recuo do dólar frente às principais moedas.

A divisa americana caiu 1,07% frente ao euro, cotado ontem a US$ 1,4445. O economista Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, afirmou ontem em uma conferência que as commodities devem continuar avançando em 2010 à medida que a recessão cede.

Para o gerente de câmbio da corretora Liquidez, Francisco Carvalho, o otimismo externo foi o principal fator para a queda do dólar.

¿ O dólar perdeu para todas as moedas e aqui não poderia ser diferente. Está parecendo que batemos no fundo do poço e estamos começando a sair da recessão ¿ observou.

Na Bovespa, isso se refletiu na alta das ações preferenciais (PN, sem direito da voto) da Petrobras, fortemente ligadas ao preço do petróleo, que subiram 3,43%, e da Vale, que avançaram 2,01%. A maior alta do dia foi da Embraer. Os papéis ganharam 9,21%, depois que a empresa divulgou resultados operacionais melhores que o esperado para o trimestre na semana passada. O Bank of America Merrill Lynch alterou a recomendação para a ação da companhia de ¿abaixo do desempenho¿ para ¿neutra¿.

BC: mercado projeta recuo para dólar e inflação menor O volumoso ingresso de recursos externos fez com que o mercado projetasse maior valorização cambial. Segundo a pesquisa semanal Focus do Banco Central, economistas calculam que o dólar encerrará este ano a R$ 1,90, contra apostas de R$ 1,95 no levantamento anterior. Para 2010, pela primeira vez eles projetaram a moeda abaixo de R$ 2, estimando cotação de R$ 1,97.

Como o dólar influencia na inflação, já que um terço do IPCA, índice oficial do governo, é sensível às oscilações da moeda, os economistas também baixaram sua projeção para o indicador.

Com relação a este ano, a estimativa passou de 4,53%, na semana passada, para 4,50% ontem ¿ o centro da meta do governo. Para 2010, o índice foi revisado de 4,40% para 4,35%.

COLABORARAM Patrícia Duarte e Chico de Gois, com Bloomberg News e agências internacionais