Título: No varejo, vendas e lucros em alta
Autor: Frisch, Felipe; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 05/08/2009, Economia, p. 19

Empresas mantêm previsão de abertura de lojas e ampliam receita no 2º trimestre

Felipe Frisch, Lino Rodrigues, Aguinaldo Novo e Fabiana Ribeiro RIO e SÃO PAULO

O segundo trimestre do ano começa a ser confirmado como o momento da virada para o varejo brasileiro. A queda nas vendas de alguns setores, devido à crise, parece ter ficado para trás. A tendência já aparece nos primeiros resultados divulgados por empresas de varejo de capital aberto e nas apostas dos analistas que acompanham o segmento. Ontem, o Pão de Açúcar divulgou lucro líquido no segundo trimestre 155% superior ao do mesmo período de 2008 ¿ antes, portanto, do agravamento da crise mundial.

As Lojas Renner já haviam anunciado na semana passada lucro líquido 2,7% superior ao do segundo trimestre de 2008, superando as projeções dos analistas, que previam uma queda. E a Marisa teve ganhos 46,84% superiores na mesma comparação. Amanhã, será conhecido o resultado das Lojas Americanas, que divulgam seu balanço com o do seu braço de internet, a B2W, dona do Submarino e da Americanas.

com. Em apenas dois dias de agosto, as ações da varejista já subiram 10% e as da B2W, 10,61%.

¿ De forma geral, o varejo passou muito bem pela crise ¿ afirma Marcos Gouvêa, diretor-geral da consultoria Gouvêa e Souza

Ricardo Eletro vê receita 10% maior

A manutenção do crédito para o consumidor, apesar de uma maior seletividade, e o aumento da renda das famílias, segundo Gouvêa, foram fundamentais para que as vendas do setor se mantivessem em alta.

¿ O segundo trimestre pode ter sido o ponto de virada para a recuperação do varejo, que virá no segundo semestre. É uma tendência que deve se confirmar nos próximos balanços ¿ avalia Eduardo Roche, chefe de análise da Modal Asset.

Uma demonstração da melhora nas expectativas foi o aumento da meta de novas lojas da rede Marisa, destaca o analista do setor de consumo da corretora Ágora, Alan Cardoso. A empresa tinha como meta seis novas lojas este ano, mas já abriu cinco e ampliou sua meta para nove lojas. A crise também não afetou os investimentos no Rio da Ricardo Eletro, com 275 lojas no país. A meta é ter, até dezembro, 50 lojas no estado e, em 2010, outras 20. Com isso, seriam criados, até o próximo ano, mais de duas mil vagas na região. E, a despeito da crise e do freio no consumo, os números da varejista continuam positivos: ¿ As vendas no primeiro semestre devem ter fechado de 10% a 12% acima do que se viu em igual período de 2008. Isso se deve, em boa parte, ao incentivo do IPI. No ano, esperamos alta de 10% a 15% nas vendas ¿ disse Ricardo Nunes, presidente da empresa.

O Grupo Pão de Açúcar, por sua vez, registrou lucro líquido de R$ 226,6 milhões no primeiro semestre do ano, um crescimento de 166,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Só no segundo trimestre, o ganho atingiu R$ 131,7 milhões, impulsionado por vendas que ficaram acima da meta projetada pela empresa. Os números foram beneficiados pelo efeito sazonal da Páscoa (que no ano passado havia sido comemorada em março). Mas o Pão de Açúcar ressaltou que ¿os meses de maio e junho continuaram a apresentar crescimentos expressivos de vendas, em linha com as expectativas da companhia e acima da inflação¿. Os números do Ponto Frio, adquirido em junho, ficaram de fora do balanço.

A crise internacional adiou alguns planos de aquisição de empresas, como a compra da Leader Magazine pela Renner. Agora, tais projetos podem ser retomados. Porém, ao mesmo tempo, os preços serão mais altos, pois as operações não terão mais como alvo companhias em dificuldades financeiras, avalia Cardoso, da Ágora. Para ele, as empresas devem se voltar agora para o chamado crescimento orgânico, ou seja, por meio da abertura de novas filiais, e não necessariamente via aquisições.

Forte valorização nos papéis do setor

Com as boas perspectivas para o varejo, as ações das empresas do setor despontam entre as que mais se valorizam este ano na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), com altas superiores a 100%, enquanto o Índice Bovespa (Ibovespa) sobe 49,24%. Para Rafael Cintra, analista de consumo e varejo da Link Investimentos, a valorização pode ser ainda maior agora, se a retomada da economia for confirmada, levando os números do comércio de volta aos melhores resultados pré-crise.

Para Roche, da Modal, as empresas mais ligadas a eletroeletrônicos, produtos mais caros, cujas vendas dependem mais do crédito e que, portanto, sentiram mais a crise, são também as prováveis maiores beneficiadas pela recuperação do consumo.

Paulo Ancona Lopez, diretor da consultoria Vecchi Ancona, destaca que a rapidez do governo em adotar medidas anticíclicas, como a redução do IPI, em setores-chave da indústria também ajudou a evitar que a crise global afetasse a psicologia dos consumidores.