Título: Ipea: na crise, desigualdade caiu graças a perdas em salários maiores
Autor: Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Globo, 05/08/2009, Economia, p. 20

Meio milhão saiu da pobreza. Estudo só usou dados de regiões metropolitanas

Eduardo Rodrigues

BRASÍLIA. Em plena crise econômica, o Brasil conseguiu reduzir em meio milhão de pessoas o seu contingente de pobres nas seis maiores regiões metropolitanas, segundo estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Além disso, a desigualdade de renda nessas localidades ¿ onde vive cerca de um quarto da população do país ¿ chegou ao seu nível mais baixo desde 2002. Porém, o avanço foi obtido graças a uma realidade perversa: a queda dos rendimentos mensais dos trabalhadores de salários mais elevados, sobretudo na indústria, setor mais afetado pelo abalo global.

¿ A crise afetou de maneira diferente os níveis de renda do mercado de trabalho e teve impactos maiores para aqueles que estão no topo da pirâmide salarial ¿ disse o presidente do Ipea, Marcio Pochmann.

`Esta não é a melhor forma de reduzir a desigualdade¿ O estudo do Ipea usou estatísticas da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, que traz dados mensais, porém se resume às seis maiores regiões metropolitanas do país. Anualmente, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), cujos dados de 2008 só serão conhecidos em setembro, é a principal referência para indicadores de pobreza e desigualdade.

O estudo do Ipea comparou o momento da crise (outubro de 2008 a junho de 2009) com o mesmo período anterior (outubro de 2007 a junho de 2008) e constatou, nas principais metrópoles brasileiras, uma redução da taxa de pobreza de 31,9% para 31%, o que tirou dessa condição 503 mil pessoas. A menor queda do indicador ocorreu na Região Metropolitana do Rio (-1,3%), e a mais significativa, no maior parque industrial do país, São Paulo (-3,9%).

A desigualdade na renda do trabalho, medida pelo Índice de Gini, também diminuiu durante a turbulência. O índice caiu 4,1% entre janeiro e junho: de 0,514 (a escala é de zero a 1 e, quanto maior, pior) para 0,493, menor patamar desde 2002.

¿ Esta não é a melhor forma de reduzir a desigualdade, cortando a renda dos que estão no topo da pirâmide. O certo seria que a renda dos que estão embaixo crescesse mais rapidamente, mas com aumento para todos ¿ disse Pochmann, lembrando ainda que a desigualdade brasileira continua muito acima do desejável.

A análise do instituto também mostra que, desde 2002, a desigualdade no Brasil metropolitano caiu 7,6% e 4 milhões de pessoas superaram a linha de pobreza, identificada pelo rendimento médio familiar de até meio salário mínimo mensal por pessoa.

Pochmann disse, porém, que o estudo não consegue fazer uma descrição fiel da evolução da desigualdade nacional de renda porque usou os dados da Pesquisa Mensal de Emprego, considerando apenas o rendimento do trabalho. Atualmente, os ganhos auferidos pelos trabalhadores representa 41,7% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), após superar 50% no início dos anos 1980.

Portanto, destacou o Ipea, estão fora do escopo de análise fatores de riqueza essenciais na sociedade brasileira, como a renda auferida com propriedade, juros, terra, entre outros