Título: PAC 2 em ano eleitoral
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Fonte: O Globo, 29/07/2009, O País, p. 3

Embora execução das obras esteja lenta, Lula já anuncia nova versão do programa para fevereiro

Letícia Lins Enviada especial ¿ CAMPINA GRANDE (PB)

Pelos dados do próprio governo federal, a liberação de verbas para pagamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está lenta. Até 21 de maio, apenas 18% da dotação orçamentária prevista para 2009 haviam sido liberados, o equivalente a R$ 3,7 bilhões. Apesar disso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que em fevereiro do próximo ano ¿ apenas oito meses antes das eleições ¿ anunciará um novo PAC. O objetivo, segundo Lula, é assegurar recursos para que o seu sucessor não passe pelas mesmas dificuldades que ele afirma ter atravessado no início de seu mandato.

Pelos planos do presidente, o novo PAC deverá ser executado de 2011 a 2015. Ele chegou a prever ainda uma terceira etapa do programa, a ser concluída em 2019.

¿ Vou lançar um novo PAC em fevereiro, para quem vier depois de mim não começar do zero. Quando eu disse que nós precisamos construir um outro PAC, é porque o Brasil, desde o governo Geisel (Ernesto Geisel, que presidiu o país entre 1974 e 1979, no regime militar), que não tinha planejamento.

O último governo a trabalhar com planejamento foi o governo Geisel, que trabalhou até 1979. A partir de 80, não tivemos mais planejamento.

Você não sabia o que cada governante ia fazer ¿ afirmou Lula, durante entrevista à Rádio Correio da Paraíba.

No domingo, O GLOBO revelou que os investimentos públicos do governo cresceram só 0,1% do PIB no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2008. Já o aumento das despesas chegou a R$ 36 bilhões no mesmo período, sendo que apenas R$ 1,3 bilhão foi gasto com infraestrutura.

Em 2007, somente 27% das verbas do PAC foram pagas.

A entrevista dada ontem por Lula à emissora paraibana faz parte da nova estratégia de comunicação da Presidência, que prevê conversas com rádios locais. A entrevista foi transmitida em cadeia por mais de 30 emissoras, inclusive comunitárias. Lula criticou a oposição por denunciar que suas viagens tem objetivos eleitorais, e disse que não é mais candidato.

Críticas a Sarney, Collor, Itamar e FH

Em março deste ano, Lula já dissera, em Vitória, que pretendia criar uma nova versão do PAC, com duração de mais quatro anos. Na ocasião, ele estava acompanhado da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência na eleição do ano que vem.

Ao falar do PAC e criticar o que chama de falta de planejamento dos seus antecessores, Lula não poupou ontem nem seus atuais aliados, como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o senador Fernando Collor (PTB-AL).

¿ Se você perguntar o que foi feito de obras no governo Figueiredo, no Sarney, no Collor, no Itamar, no Fernando Henrique Cardoso, você não tem, porque não tinha um planejamento estratégico de obras prioritárias.

Um fazia uma coisa, outro fazia outra coisa. Então, quando falo que vamos fazer um PAC, é porque vamos ter que dar sequência às obras que estamos fazendo ¿ disse.

Para Lula, o PAC por ele proposto não vai se encerrar em 2011. Ele se referiu também ao período entre 2015 e 2019, quando, segundo ele, será necessário um novo PAC: ¿ E aí vamos construindo uma sequência de investimentos em infraestrutura, que podem garantir o futuro do Brasil com muito mais tranquilidade ¿ disse Lula.

O presidente voltou a falar no PAC a ser lançado em fevereiro do próximo ano nas duas solenidades que participou ontem em Campina Grande, a 120 quilômetros de João Pessoa, onde prometeu voltar, já sem mandato, para dançar o forró na festa que os paraibanos chamam de ¿maior São João do mundo¿ e principal evento turístico do estado.

Lula defendeu a reforma política.

Lembrou que há cinco anos vem pedindo ao Congresso que a realize: ¿ O Congresso precisa fazer a reforma política. Precisamos fortalecer os partidos políticos para que a gente não viva as turbulências que se vive, de vez em quando, no Congresso.

Fizemos sete itens de reforma política e enviamos para o Congresso.

Está lá para o Congresso discutir e votar. Acho que o Congresso brasileiro precisa se dar conta de que, sem a reforma política, é muito difícil a gente ter tranquilidade.

De acordo com o presidente, a falta da reforma política também acaba afetando a legislação eleitoral: ¿ Todos os anos, ficamos por conta da vontade da Justiça e da interpretação da Justiça. Não é possível.

Nós temos que colocar uma coisa que tenha regras mais definidas, para todo mundo saber o que vai acontecer em janeiro e em dezembro.

Espero que o Congresso tenha maturidade para isso.