Título: PMDB e PT: aliados nada amistosos
Autor: Krieger, Gustavo
Fonte: Correio Braziliense, 08/03/2009, Política, p. 8

As duas principais forças de sustentação de Lula e da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência em 2010 vivem uma guerra interna, com disputa por poder no governo e no Congresso.

Renan Calheiros articulou a eleição de Fernando Collor para a Comissão de Infraestrutura do Senado, impondo uma derrota política ao PT O PMDB está cada vez mais próximo do governo Lula e do palanque montado para a candidatura presidencial de Dilma Rousseff em 2010. Ao mesmo tempo, sua relação com o PT continua a piorar. A divisão, presente nos bastidores desde sempre, ganhou publicidade com uma série de quedas-de-braço nos últimos dias. Esse é o principal problema que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus articuladores políticos precisam resolver.

Desde o fim do ano passado, quando o PMDB emergiu das eleições municipais como o partido mais votado e com a conquista de 1.100 prefeituras, Lula deixou claro que considera a legenda um aliado fundamental para sustentar a candidatura de Dilma. Foi a senha para que os peemedebistas aumentassem suas pretensões de espaços no governo e no Congresso. Como os mesmos espaços são disputados pelo PT, a relação entre as duas legendas ficou ainda mais tensionada. Para complicar a situação, as bancadas do PMDB na Câmara e no Senado, tradicionais adversárias, passaram a atuar em conjunto, numa ofensiva contra os petistas.

Um exemplo dessa unidade na ação foi a tentativa do PMDB de controlar o Real Grandeza, fundo de pensão dos empregados de Furnas. O primeiro movimento foi feito por Edison Lobão, senador licenciado e ministro de Minas e Energia, pasta à qual está vinculada a estatal de energia elétrica. Em entrevista, ele descreveu como ¿uma bandidagem¿ a ação da atual diretoria do fundo, nomeada sob os auspícios do PT. A manifestação provocou uma reação dos setores petistas do governo, para blindar a direção do fundo.

O contra-ataque do PMDB veio na Câmara. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) começou a colher assinaturas para uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os fundos de pensão. Foi um golpe bem calculado. Os fundos são uma das principais estruturas de poder sob controle do PT. Um acordo engavetou a proposta, mas a exibição de músculos peemedebista impressionou o governo, pelo nível dos personagens envolvidos. Lobão é extremamente ligado ao novo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e se articula permanentemente com o líder da bancada, Renan Calheiros (PMDB-AL). Eduardo Cunha é considerado um dos mais duros operadores políticos do PMDB na Câmara.

Collor O embate seguinte aconteceu no Senado. Renan Calheiros articulou a candidatura de Fernando Collor (PTB-AL) à presidência da Comissão de Infraestrutura, mesmo sabendo que o cargo era cobiçado pelo PT. Foi um ataque cirúrgico. Pela proporcionalidade das bancadas, o cargo caberia aos petistas. Além disso, o posto é estratégico, por tratar-se da comissão por onde passam os projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Para completar, a candidata era Ideli Salvatti (PT-SC), ex-líder do partido e parlamentar conhecida por não fugir da briga. O confronto era inevitável. Ou o PT desistia do cargo ou seria derrotado no voto. De qualquer forma, perderia. O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), optou por escancarar o conflito. Levou a briga até o fim e, após a derrota, denunciou o que chamou de ¿aliança espúria¿ entre Collor e Renan.

¿A briga é por poder¿, diz um parlamentar petista. ¿Poder agora e no próximo governo, se Dilma for eleita.¿ Na avaliação do PT, o PMDB usa o seu peso político para ocupar espaços que tornem a legenda decisiva na orientação da campanha para 2010. Nesse ponto, ao menos, os peemedebistas concordam. ¿A relação com Lula e Dilma é uma coisa, com o PT é outra¿, diz um dos dirigentes do partido. ¿Não há ninguém no PMDB que não tenha brigas com o PT. Pode ser no Congresso, no governo ou em sua base regional. Em algum lugar o PT é o inimigo.¿