Título: Planalto e PT levam bancada do PT a adiar decisão
Autor: Lima, Maria; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 05/08/2009, O País, p. 3

Mercadante desmarca reunião com senadores petistas que deveria reafirmar pedido de licença de Sarney

Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Pressionado pelo PT e pelo Palácio do Planalto, o líder do partido no Senado, Aloizio Mercadante (SP), desmarcou ontem reunião da bancada que deveria reafirmar o pedido de licença temporária do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). A avaliação do governo e do comando do PT é que uma nova reunião para confirmar posição já tomada fragilizaria ainda mais a situação de Sarney num momento em que ele insiste em demonstrar disposição para o enfrentamento político. A decisão de cancelar a reunião foi tomada em cima da hora, após consulta feita pelo líder aos 11 colegas.

¿ Ninguém pediu para mudar de posição.

Por isso, não havia motivo para a reunião. A bancada permanece com a opinião de que a licença temporária de Sarney é a melhor solução para a crise ¿ explicou Mercadante.

Num tom conciliador, o líder defendeu que o Conselho de Ética deve ser o espaço adequado para resolver a crise. Disse esperar que o parecer do presidente do colegiado, Paulo Duque (PMDB-RJ), sobre as representações contra Sarney fosse fundamentado. E deixou claro que não havia posição da bancada em defesa da renúncia de Sarney: ¿ Não tenho compromisso com a renúncia.

Também não tenho nenhum compromisso de encaminhar essas questões com a oposição.

O adiamento começou a ser costurado na noite anterior. Mercadante esteve na Presidência da República, onde se encontrou com Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula, e com Ricardo Berzoini, presidente do PT.

¿ Foi uma decisão sensata ¿ disse Delcídio Amaral (PT-MS), um dos quatro senadores petistas que apoiam Sarney, na bancada de 12. ¿ O PT não podia ser ator novamente de uma novela que não é dele.

Havia preocupação no governo com a reação do PMDB em relação à postura crítica do PT.

¿ Não tinha razão para o PT ficar toda a semana discutindo esse assunto (o caso Sarney).

Na bancada, temos posições diferenciadas. A oposição descobriu agora que há atos secretos, quando o DEM está na 1asecretaria há 14 anos. O PT nunca defendeu ato secreto ou nepotismo.

Foram feitas representações no Conselho de Ética e vão ser analisadas. Qualquer outro debate é para criar confusão ¿ disse Berzoini.

Um jantar para avaliar a crise chegou a ser marcado para segunda-feira e cancelado em seguida.

O encontro acabou acontecendo na manhã de ontem, na casa do líder do PTB, Gim Argello (DF).

Além de Mercadante, participaram Renan Calheiros (AL), líder do PMDB, Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo, Ideli Salvatti (PT-SC), líder do governo no Congresso, e o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Mercadante ponderou que era preciso que Renan e Gim avaliassem melhor a evolução da crise e que adotassem um tom de conciliação, diante do processo político. E sustentou que era preciso evitar o caminho do confronto.

¿ Compreendo a posição do senador Mercadante.

Ele é o líder de uma bancada e tem que equilibrar as posições ¿ respondeu Renan.

As negociações no PT em favor de Sarney contaram com a participação do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, que voltou ontem de férias de duas semanas em Saint Barth, no Caribe, e na Flórida (EUA). Ele chegou ontem à noite a Brasília, onde terá encontros no PT e no governo, como já fizera antes do recesso. Do exterior, Dirceu conversou por telefone com Sarney e com a filha dele, a governadora Roseana Sarney (PMDB-MA).

Também falou com senadores petistas, como Ideli, e com Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula. Em seu blog, Dirceu fez ataques à imprensa, afirmando que a mídia está ¿inconformada¿ porque a ¿pressão para calar¿ os defensores de Sarney não funcionou