Título: Pressão sobe após ameaças
Autor: Lima, Maria; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 05/08/2009, O País, p. 3

Cinco partidos pedem afastamento de Sarney, que falará hoje após reunião do Conselho de Ética

Maria Lima e Cristiane Jungblut BRASÍLIA

Depois das ameaças e tentativas de intimidação feitas na véspera pela tropa de choque do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), cinco partidos voltaram a defender seu afastamento do cargo e discutiram reação a qualquer tentativa de arquivamento das investigações contra ele, hoje, no Conselho de Ética. Houve a tentativa de uma nota conjunta, que não avançou.

Num tom mais moderado, para se contrapor à truculência da véspera da dupla Renan Calheiros (PMDB-AL) e Fernando Collor (PTB-AL), senadores de PSDB, DEM, PT, PDT e PSB se revezaram no plenário para insistir no afastamento de Sarney.

Sarney ficou frente a frente com seus críticos, impassível. Limitou-se a avisar que responderá hoje, em discurso, às denúncias contidas nas 11 ações contra ele no Conselho de Ética. Seus aliados negam que anunciará sua renúncia ou licença.

O líder tucano, Arthur Virgílio (AM), em discurso, cobrou diretamente de Sarney pela insistência em ficar no cargo: ¿ Senador José Sarney, case-se com a sua biografia. Esse mandato de presidente da Casa representa nada para V. Excelência. Já foi presidente da Casa duas vezes, presidente da República, ilustre deputado federal, governador do seu estado muito jovem. Esse laurel não é laurel do jeito que ele está posto aí, não representa nada.

V.Excelência tem uma volta por cima, sim, a dar. E a volta por cima não é a da truculência, a da prepotência . Não pense que através desse ou daquele V.

Excelência irá calar esta Casa.

¿ Amanhã, irei à tribuna e terei oportunidade de responder a V. Excelência ¿ respondeu Sarney.

Mercadante discorda de nota

De manhã, governistas e oposicionistas se reuniram para tentar um acordo. Os governistas tiveram um café da manhã no gabinete do líder do PTB, Gim Argello (DF). Participaram senadores da tropa de choque de Sarney, o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

Mais tarde, Mercadante e Jucá participaram de reunião com líderes da oposição. Depois da saída dos governistas, a oposição discutiu a estratégia de atuação no Conselho e uma nota dos cinco partidos pedindo a licença de Sarney. Mas o PT decidiu não assinar essa nota.

¿ Não tenho compromisso com essa alternativa ¿ disse Mercadante.

Apesar de o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), ter defendido de manhã a renúncia de Sarney, a bancada do partido decidiu manter a tese do afastamento temporário. Em plenário, Agripino avisou que todos os votos do DEM seriam pela abertura de processo contra Sarney: ¿ Temos que dar um passo à frente, pragmático, para que o país entenda que não estamos contra Sarney, mas em defesa da Casa.

Mercadante, que cancelara a reunião da bancada, disse que não houve mudança de posição do partido: ¿ A posição da bancada está mantida.

A licença seria o melhor. Perguntei a todos os senadores se queriam mudar de posição, e ninguém quis. O afastamento seria o melhor para impedir o clima de conflagração.

Renato Casagrande (PSB-ES) foi o primeiro a discursar: ¿ Hoje estamos com um ambiente mais articulado. Afinamos o discurso e aglutinarmos as forças que defendem o afastamento do presidente Sarney.

O presidente do PSDB, Sergio Guerra, rebateu duramente o clima de guerra na Casa.

¿ Confronto, agressão, acusações, contradições, revanchismo, ameaça, dossiê. Isso não é conversa de democrata, isso é conversa de bandido.

Renan e Collor passaram a tarde no plenário, calados. A tímida reação aos discursos da oposição partiu de Almeida Lima (PMDB-SE) e Wellington Salgado (PMDB-MG).

Para evitar que se acentuasse o clima de guerra, Sarney adiou o discurso.

Ele estava disposto a usar um tom acima do que estava adotando até então.

Mas deve evitar ataques. Ao deixar o plenário, foi cumprimentar senadores.

Numa roda, foi questionado por Tasso Jereissati (PSDB-CE), por causa da tropa de choque da véspera.

¿ Não tenho tropa de choque nenhuma.

Agora, a verdade é que estou sendo massacrado. Querem me enxovalhar ¿ respondeu Sarney.

Em outra roda, cumprimentado por Agripino, Sarney pediu para o líder agir com o coração. Agripino respondeu que gostaria, mas que as circunstâncias não permitiam. Sarney disse ainda que era preciso separar a política da questão jurídica.

A crise no Senado foi discutida numa reunião ontem à noite entre o presidente Lula e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Ao sair do encontro, Temer disse que Sarney ¿não renuncia¿ e que Lula trabalha para que o Senado resolva a crise.

- O presidente continua muito empenhado no sentido de que o Senado resolva a questão por conta própria. Evidentemente que demonstrou todo o apreço pelo presidente Sarney ¿ disse Temer

COLABOROU: Gerson Camarotti