Título: Analistas temem aumento no preço da energia
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 26/07/2009, Economia, p. 25

Venda por Itaipu no mercado livre forçaria maior uso de térmicas

RIO e ASSUNÇÃO. Empresários e especialistas brasileiros em energia receberam com apreensão as mudanças acertadas por Brasil e Paraguai em relação à venda da energia de Itaipu. A maior preocupação é com a possibilidade de o Paraguai vender a energia de Itaipu diretamente no mercado livre brasileiro. Apesar de não ter sido definido qualquer cronograma para essa abertura, isso poderá levar a um aumento do preço da energia no Brasil, dizem os analistas.

A alta nas tarifas para o consumidor brasileiro é o temor de Nivalde de Castro, coordenador Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ. Hoje, toda energia de Itaipu é revendida pela Eletrobrás em leilões que o governo realiza anualmente.

Com parte da energia de Itaipu indo diretamente para o mercado livre ¿ ou seja, sendo vendida para as empresas brasileiras sem passar pela Eletrobrás ¿, o governo terá que oferecer outras opções de energia para os leilões. E, segundo Castro, neste caso, provavelmente serão contratadas energia de usinas térmicas, mais cara.

O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Luiz Carlos Guimarães, teme pela mudança das regras. Ele lembra que cerca de 75% da energia consumida no país são contratados nos leilões, e o restante é negociado no mercado livre.

¿ A Ande (a estatal de energia paraguaia) é que vai vender para o Brasil? E vai ser em dólares? Aqui a energia é negociada em reais. As distribuidoras têm energia contratada até 2013, o que vai acontecer? ¿ indaga.

Presidente Lugo divulga acordo como vitória política Nas negociações em Assunção, o Paraguai também queria autorização para vender energia a terceiros países, mas o Brasil não concordou. Acertou-se, no entanto, que ambos os países possam fazer isso a partir de 2023. Lula também concordou que Itaipu Binacional construa uma nova linha de transmissão (de US$ 450 milhões) para o interior paraguaio, para permitir a implantação de indústrias.

Lula prometeu ainda criar um fundo de desenvolvimento regional para apoiar, especificamente, ¿a implementação de projetos de cunho industrial e produtivo¿. Além disso, ofereceu ¿ igualmente sem mencionar cifras ¿ ¿financiamento em termos favoráveis¿, com recursos do BNDES e do Proex, para obras de infraestrutura. Ficou prometido, ainda, o início de estudos para construir uma conexão ferroviária entre Cascavel (PR) e Ciudad del Este.

Depois que Lula se retirou da sede do governo paraguaio, o presidente Lugo anunciou o acordo ao país, em cadeia nacional de TV, como o seu maior êxito político, regozijando-se pelo fato de que ¿em dez meses de governo conseguimos algo que foi impossível em mais de trinta anos¿. (Ramona Ordoñez e José Meirelles Passos)