Título: Os bunkers da família Sarney no Senado
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 26/07/2009, O País, p. 4

Senador usou seus gabinetes, de aliados e da filha Roseana para empregar dezenas de familiares e aliados

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Com quase 60 anos de vida pública, dos quais 33 passados no Senado, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), acabou encarando a instituição quase como uma extensão de sua própria casa ou das empresas de sua família, onde não só ele, como seus filhos, netos, namorados dos netos, amigos, cabos eleitorais, mordomos, motoristas, compadres e outros agregados poderiam fazer o que bem quisessem. Além de ter ajudado a dar sustentação política para que o ex-diretorgeral do Senado Agaciel Maia permanecesse no comando administrativo da instituição por quase 14 anos, Sarney não se contentou em preencher apenas os cargos de confiança de seu gabinete e da presidência, nas três vezes em que foi eleito para comandar a Casa.

Para garantir emprego de quase quatro dezenas de parentes, amigos e correligionários nos últimos anos, Sarney contou com a ajuda da filha Roseana Sarney (PMDB-MA) ¿ que renunciou ao mandato de senadora em abril passado, para assumir o governo do Maranhão ¿ e de gabinetes de aliados, líderes partidários, conselhos da Casa e até da estrutura da Diretoria Geral.

Os tentáculos dos Sarney se espalharam por uma espécie de nove bunkers no Senado.

Só em gabinete oficial, Sarney empregou nove Só no seu gabinete pessoal, Sarney chegou a abrigar pelo menos nove parentes, amigos e correligionários. Entre eles, Rodrigo Silva Buzar, identificado na operação que investiga seu filho Fernando Sarney como o responsável pelo saque em espécie de um cheque de R$ 37 mil emitido pela São Luís Factoring, instituição financeira suspeita de lavar dinheiro. O senador também não se intimidou em usar os cargos comissionados da presidência do Senado, nas três vezes em que foi eleito para o posto, para abrigar fiéis aliados, como Elga Mara Teixeira, que trabalhou nas últimas campanhas de Sarney e Roseana e, desde 2003, passou por cargos na Casa, incluindo o de diretora de Comunicação.

A lista de beneficiários inclui Said Barbosa Dib, identificado como assessor de imprensa dele no Amapá. Dib tem um blog chamado ¿Amapá no Congresso¿, que virou palco de ataques para eventuais críticos do presidente do Senado. Lá, por exemplo, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que esta semana defendeu a convocação extraordinária do Conselho de Ética no recesso para iniciar o julgamento de Sarney, é classificado como ¿ressentido... que quer se dar bem às custas de Sarney e Lula. (...) Parasita é assim...¿ Já os gabinetes de Roseana e seu suplente Mauro Fecury (PMDB-MA) abrigaram outros 14 parentes e agregados da família Sarney, como Amaury de Jesus Machado, mais conhecido como ¿Secreta¿ e pelos serviços de mordomo que presta na casa mantida em Brasília pela hoje governadora do Maranhão. Lá continua sendo o abrigo até hoje de Maria do Carmo de Castro Macieira, sobrinha de dona Marly ¿ mulher de Sarney¿ e de Larissa Lenza Gratão, sobrinha da chefe de gabinete de Roseana no Maranhão, Olga Maria Lenza Simão, e do vice-presidente de Pessoa Física da Caixa Econômica Federal, Fábio Lenza, indicado para o cargo por Sarney.

O cantor e compositor Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho, o Chico Maranhão, é outro na folha do Senado desde 2003 graças à família Sarney. Com 66 anos, e morando em São Luís, está lotado no gabinete de Fecury.

Os gabinetes de dois senadores maranhenses na Casa, Epitácio Cafeteira (PTB) e Lobão Filho (PMDB), acolheram seis protegidos dos Sarney. Cafeteira empregou um dos netos, João Fernando Michels Gonçalves Sarney, e sua mãe Rosângela, além de um irmão do presidente do Senado, uma sobrinha do marido de Roseana e o irmão do colega Mauro Fecury.