Título: Auditor do TCU era aliado de Fernando Sarney
Autor: Carvalho, Jailton de; Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 26/07/2009, O País, p. 8

Funcionário foi alvo de sindicância interna e poderá ser punido

Jailton de Carvalho e Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA. Investigações da Polícia Federal ao longo da operação que investiga denúncias de fraudes em licitações e desvio de recursos públicos revelam que o grupo do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), tentou estender sua área de influência até sobre o Tribunal de Contas da União (TCU).

Segundo a PF, o grupo teria se associado ao auditor Ricardo Eustáquio, então chefe da Superintendência de Controle Externo do TCU em Tocantins, para se proteger de supostas irregularidades nas obras da ferrovia Norte-Sul. A associação teria esbarrado na ação da polícia e do próprio TCU.

Na sexta-feira, auxiliares do presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, informaram ao GLOBO que amanhã será aberto um processo administrativo contra Eustáquio por conta dos supostos vínculos dele com o grupo de Fernando Sarney. O processo pode resultar em penas que vão da simples advertência até a demissão a bem do serviço público. O TCU foi advertido sobre a suposta aproximação do fiscal com o grupo a ser fiscalizado e adotou imediatamente as primeiras providências.

Eustáquio foi afastado do cargo em 18 de fevereiro e passou a ser alvo de uma sindicância interna.

Sindicância confirma parte das suspeitas A sindicância confirmou parte das suspeitas e, agora, vai se transformar em processo administrativo. O diretorexecutivo da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, avalia que a permanência dos afilhados de Sarney em cargos estratégicos reflete a força do senador no governo federal.

¿ A longevidade política dessas pessoas depende do cacife do patrão, no caso, o Sarney. Se ele cai em desgraça com o governo, todo mundo dança. Mas Lula ainda é muito dependente dele ¿ avalia.

Para Abramo, a troca de apoio político por cargos na máquina administrativa é uma praxe da política brasileira que deveria ser combatida.

¿ Os políticos buscam cargos no governo com duas finalidades: empregar cupinchas e roubar, direcionando licitações e favorecendo empresas.

Isso é o que mostra o noticiário sobre corrupção no Brasil ¿ afirma.

Filho de Sarney tinha informantes na Abin As investigações feitas pela Polícia Federal já indicaram também que Fernando Sarney mantinha uma rede de informantes com tentáculos até na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Essa suspeita é reforçada pelo diálogo travado entre Fernando e seu pai, num telefonema interceptado com autorização judicial. A conversa, feita no ano passado, gira em torno das investigações sobre Fernando. Na conversa, faz-se ainda menção sobre um suposto informante no Banco do Amazonas: Fernando Sarney: Olha aqui, e aquele meu negócio? Alguma novidade? José Sarney: Não, até agora não me deram nada.

Fernando: Muito bem, mas eu aqui já tive notícia do Banco do Amazonas.

Sarney: Da Abin? Fernando: Também.

Sarney: Tá bom.

Na época em que essa conversa entre Sarney e seu filho Fernando foi travada, o atual vice-governador do Maranhão, João Alberto de Souza, era diretor do Banco da Amazônia.