Título: Investimentos crescem só 0,1% do PIB em relação a 2008
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 26/07/2009, O País, p. 8

Já aumento de despesas do governo no 1o- semestre chega a R$ 36 bi, na comparação com 2008, sendo que apenas R$ 1,3 bi com infraestrutura Regina Alvarez

BRASÍLIA. A execução do Orçamento da União no primeiro semestre deste ano mostra que os investimentos públicos cresceram apenas 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB), em relação ao mesmo período de 2008. No auge da crise econômica, o governo elevou muito seus gastos, mas optou em concentrar os maiores aumentos em pessoal e outras despesas correntes, como gastos sociais, benefícios previdenciários e a manutenção da máquina administrativa. A fatia destinada aos investimentos corresponde a apenas 3,5% do total de aumento dos gastos públicos (exceto juros), que chegou a 2,8% do PIB no primeiro semestre.

O aumento de despesas no período chegou a R$ 36 bilhões, na comparação com 2008, mas apenas R$ 1,3 bilhão se refere a gastos com investimentos. Já as despesas de pessoal subiram R$ 10,5 bilhões, e as demais despesas correntes, R$ 24,3 bilhões.

¿ Os investimentos continuam sem prioridade na expansão do gasto público. Ainda que o valor executado no primeiro semestre seja a melhor marca no período, desde o início do governo Lula, os gastos com pessoal cresceram oito vezes mais do que os com obras ¿ diz o economista José Roberto Afonso.

A análise da evolução dos gastos públicos no primeiro semestre deste ano faz parte de estudo de Afonso e do economista Gabriel Junqueira, elaborado para a Comissão de Crise do Senado, com base em dados extraídos do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) pela ONG Contas Abertas. No cálculo, estão incluídos as despesas executadas do Orçamento de 2009 e os ¿restos a pagar¿ (despesas de anos anteriores pagas este ano).

Os gastos com investimentos ¿ em valores constantes, já atualizados pela inflação do período ¿ passaram de R$ 9,9 bilhões no primeiro semestre de 2008 para R$ 11,2 bilhões no mesmo período deste ano, com aumento real de 13%. Em percentual do PIB, o montante passou de 0,67% para 0,77% Gastos com pessoal pularam para R$ 80,2 bilhões Os gastos com pessoal pularam de R$ 69,7 bilhões (4,74% do PIB) para R$ 80,2 bilhões (5,53% do PIB), na comparação dos dois períodos. E as demais despesas correntes passaram de R$ 221,4 bilhões (15,05% do PIB) para R$ 325,9 bilhões (16,96% do PIB).

O economista Armando Castelar, analista da Gávea Investimentos e professor do Instituto de Economia da UFRJ, vê com preocupação o baixo nível de investimentos em infraestrutura no país. Ele considera que, para crescer 5% ou 6% ao ano, o Brasil precisará elevar o investimento, no mínimo, em 2 ou 3 pontos percentuais do PIB. Mas Castelar destaca que esse não é um problema novo, pois vem desde a redemocratização do país.

¿ Nos últimos 20 anos, essa situação não mudou. Mas, se pensarmos no Brasil de amanhã, tem que haver uma outra lógica para o gasto público ¿ afirma.

Sobre a elevação dos gastos correntes no primeiro semestre, Castelar diz que decisões como os aumentos para o funcionalismo foram tomadas antes que a crise se aprofundasse no Brasil, quando o governo acreditava que a receita seria maior. E as despesas passaram a ser apresentadas como anticíclicas.

¿ Outros países estão elevando gastos na crise, mas concedem bônus de uma única vez. No Brasil, os gastos são permanentes.

Não é uma política anticíclica recomendável ¿ diz.

¿ O incremento dos investimentos públicos é tido como o remédio mais recomendado pela teoria e pela experiência internacional para combater os males da crise financeira global ¿ completa José Roberto Afonso.

Na análise sobre as contas públicas, Afonso e Junqueira dizem que, mantido o ritmo atual de expansão das despesas do Orçamento, em um ano com crescimento da economia perto de zero, os gastos do governo crescerão 12% em termos reais. A conta considera os gastos totais não financeiros do primeiro semestre deste ano, de R$ 337 bilhões, contra os gastos do primeiro semestre de 2008, R$ 301 bilhões.

¿ É uma expansão muito grande, principalmente se considerada a qualidade desse gasto ¿ conclui.